O poder adulto consiste na subordinaçom das crianças e da juventude, sobretudo a feminina, aos interesses do pai, núcleo da família patriarcal.
O poder adulto procura fazer de nós, as jovens, instrumentos úteis para a reproduçom do poder dominante nas duas expressons que caraterizam as relaçons de poder: a opressom sexo-género e a de classe, às que temos que somar-lhe a que se sofre nas colónias ou nas naçons oprimidas, como é o caso da Galiza.: a opressom nacional.
A necessária crítica à instituiçom familiar fica curta se nom vai acompanhada da denúncia ao poder adulto, pois é este o que nos explica como se aplica isto, de forma muitas vezes invisível, na prática diária e com múltiplos instrumentos nom só físicos mas sobretudo psicológicos (desde os afetivos e emocionais até a pressom, chantagem, invisibilizaçom, ameaça, castigo...)
A dualidade “recompensa–puniçom” que se introduze na educaçom e nas nossas "vidas privadas” serve para incorporar o poder socialmente dominante no mais profundo da estrutura psíquica das massas e das pessoas para perpetuar a hegemonia de qualquer sistema imperante. E, claro é, existe controlo e repressom porque antes há resistência e rebeldia.
Dotando-nos dumha leitura histórica som múltiplas as manifestaçons de incomodo juvenil que periodicamente, quando se produz umha rutura geracional importante, chegam a níveis altos de rechaço à ordem estabelecida; som muitos os processos de transformaçom e rutura nos que a presença e mesmo direçom política recai nas jovens. Mas nestas luitas e processos, mesmo mais que noutras, se calhar favorecidos pola falta de organizaçom constante juvenil, os poderes dominantes figérom umha importante labor silenciadora.
Na Revoluçom de Outubro, no Movimento do 26 de julho ou na Revoluçom Sandinista, a presença e papel desenvolvido na direçom dos processos revolucionários polas jovens, sendo estas um fator agregador fundamental, é inegável. Mas também noutros processos revolucionários nom tam estudados ou presentes no imaginário dos atores políticos galegos coma a Marcha do Sal na Índia, acontecida quando a metrópole inglesa instaura um imposto sobre a produçom e comercializaçom do sal, e Mahatma Gandhi, reconhecido como profundamente misógino e racista embora fundamental no processo de independência índio, começa umha marcha de 390 kilómetros, onde pronuncia multitudinários mítins e onde seriam milhares as jovens que se uniriam a esta protesta que desencadearia na primeira onda de desobediência civil massiva contra o poder colonial británico, 17 anos depois a Índia conseguiria a sua independência. Ou os distúrbios de Soweto no 1976, onde as estudantes negras do distrito organizárom-se em diferentes mobilizaçons para sair à rua contra o decreto do afrikaans imposto polo Partido Nacional no regime do apartheid, que lhes obrigava a estudar 50% nesta língua, com o intuito de receberem o mesmo trato que o alunado branco. Após a repressom exercida contra as jovens na que morreriam mais de meio milhar de escolares, sendo mais um milhar feridas, começaria a luita organizada contra o apartheid, nucleada entorno ao Congresso Nacional Africano e à figura de Nelson Mandela. Desde esse momento e até o 94, Soweto seguiu a ser o ponto quente, emblema e motor da luita contra a segregaçom racial.
Nesta necessária olhada histórica, trasladando o nosso óculo ao Madrid do 1958, achamos o grupo Brais Pinto onde, os daquela moços coma Ferrim, Bernardino Granha, Reimundo Patinho, Bautista Álvares, Uxío Novoneyra ou Manoel Maria, revolucionam o panorama cultural e superam com novas formas culturais e manifestaçons políticas o nacionalismo galego da época. O grupo de moços galegos que liam a geraçom Beat, a Camus e Castelao evoluiria para o Conselho da Mocidade que embora durasse escassos quatro meses, marcaria a rutura entre o galeguismo cultural, (o pinheirismo como opçom política) e o marxismo combinado magistralmente com a questom nacional que devalaria na refundaçom da UPG e os seus dez pontos de mínimos, o nacionalismo de massas e os eixos nacional-popular coma base inescusável do seu acionar político.
No mesmo movimento do 15-M, que agitaria o cenário político dentro do Estado espanhol, fôrom as jovens que nom se podiam independizar, as precárias, as estudantes... as que nutrírom as praças, em reclama de dignidade, onde saiu à rua parte do abstencionismo político, que nunca se sente interpelado, bramando contra o monopartidismo bicéfalo e pedindo a impugnaçom do regime do 78.
Podemos observar como nestas luitas, a rebeliom juvenil motivada também pola reclamaçom própria de independência respeito ao poder adulto aparece coma umha parte integrante, importante e agregadora das luitas gerais do feminismo, polas liberdades sexuais, nacionais e em geral pola luita de classe contra a exploraçom.
Porém, um dos problemas do poder adulto é que é tam forte e está tam profundamente estendido que também no seio das forças revolucionárias se acha fortemente ancorado, podendo as jovens ser invisibilizadas, as nossas opinions desprezadas, relegadas a tarefas mecánicas, de apéndice da organizaçom inter-generacional para as tarefas de base e afastadas das esferas de debate e decisom.
Muitas vezes vemos como organizaçons juvenis ou projetos para a mocidade se encontram completamente vinculadas e ligadas a organizaçons de carácter inter-generacional convertendo-se em simples apéndices organizativos de cara a estender um discurso, servir a interesses eleitorais ou de acumulaçom de forças internas mas sem a capacidade de organizarmo-nos com autonomia fugindo de dinámicas opacas e dirigistas. As jovens precisamos contar com completa capacidade de análise e decisom sobre as nossas próprias realidades de intervençom e temos a necessidade de brigar com honestidade polo nosso espaço na política e na sociedade.
Apesar da força alienante dos instrumentos de reproduçom ideológica do sistema, entre estes o poder adulto, sempre existem jovens que, polas condiçons objetivas e subjetivas que os rodeiam, mantenhem umha consciência crítica e querem organizar-se para inverter as tornas do sistema atual. Aqui entra de cheio a necessidade da organizaçom juvenil pois nengumha militância pode sobreviver muito tempo sem o amparo dum coletivo. O que nos permite a militáncia juvenil à mocidade, é de forma autónoma, racionalizar esforços, analisar coletivamente as luitas, conhecer as suas características e ritmos e intervir planificadamente nelas. E, à vez, contamos com umha rede de apoio para levar outra militáncia fundamental, na mal chamada "vida privada" familiar, na luita por relaçons sexo-afetivas sanas, de apoio nas nossas liberdades sexuais, de coidados, afetos e lazer à margem dos valores burgueses, machistas e as dinámicas de poder adulto.
A juventude muitas vezes é vanguarda porque vai diante em esforços e em entrega, porque pratica sem interesses a política, predicando a pedagogia do exemplo, e porque mantém umha constante tarefa formativa e se encontra em primeira linha na luita teórico-política e na açom. Como tal, temos que assumir a tarefa de manter e atualizar as reinvidicaçons revolucionárias na Galiza de hoje, vivificar a memória de luita nos logros e vitórias e aprender dos erros e derrotas, organizar a espontaneidade, brigar com força contra a retórica sibilina do reformismo e preparar-nos para a luita.
A urgente necessidade de reconfigurar, democratizar e fazer avançar o movimento juvenil galego está no ponto de mira. A aposta aqui é clara: precisamos artelhar espaços amplos que assumam a tarefa de politizar o quotidiano e que sejam úteis para a juventude, desde onde reagir combativas perante a precariedade do trabalho assalariado e a temporalidade laboral que nos afogam, espaços onde reproduzir condutas diametralmente distintas às que o capital e o poder adulto se esforça por perpetuar sobre nós, espaços de cuidados e de redes de apoio nas nossas realidades quotidianas. Espaços com ofertas formativas, lúdicas e desportivas que consigam um oco nas agendas de ócio das moças das vilas e cidades galegas. Espaços que se conectem e aproveitem sinergias dos múltiples projetos de base de cada comarca na aprofundizaçom do necessário contra-poder.
Queremos ajuda para independizar-nos, teito, comida, afetos e coidados, espaços de auto-defesa perante as agressons machistas, perante as agressons do patrom, ou nas escolas, universidades e centros de formaçom profissional. Assumimos que temos que reiventar o nosso imaginário, os nossos mitos e mudar os símbolos derrubando uns e criando com as suas cinzas outros, achegar soluçons tangíveis e fugir da consigna abstracta que nom lhe chega à nossa geraçom.
Precisamos fazer política fora dos nossos espaços habituais e de inoperante confortabilidade, abrir-nos, construir com outra gente outros novos, superadores de ambos e agregadores para as que nunca participam porque ninguém as interpela e vêm a política juvenil como afastada e mesmo elitista. E nisto a tarefa de atingir espaços e prédios próprios é fundamental, de re-apropriarmo-nos do nosso lazer e formaçom, fora dos ambientes consumistas e alienantes. Desde onde gerir os nossos relacionamentos e apredizagens de forma coletiva e conjunta. Espaços auto-geridos por jovens onde criar cumplicidades, unidade e alargar as trincheiras. Liberar partes da cidade e da vila na construçom do contra-poder.
Precisamos construir ferramentas que se adequem às necessidades e condiçons da juventude galega de hoje em dia, espaços que superem a atomizaçom atual no movimento juvenil galego. Em definitiva, precisamos expulsar o capital que nos precariza, a Espanha que nós nega e o Patriarcado que nós destrói. E precisamos, para isso, novas fórmulas, novos modelos... O movimento juvenil atual, do que também fai parte o independentismo de classe, nom é valido pois apresenta deterioro e parálise. Nom é útil, pois nom está na agenda da juventude galega.
Cuspimos sobre a oxidaçom e o rol nulo que jogamos as jovens no seio da sociedade galega e nom só, também do panorama político galego.
Já abonda, desprezamos profundamente a ciber-militáncia e pose, com todas as multiples estratégias para colecionar “gostos” e visualizaçom nas redes, renegamos do radicalismo estético inconsequente, desprezamos o intelectualismo que nada tem a ver com a intelectualidade. Mas sobretudo desprezamos as cumplicidades na atomizaçom do movimento juvenil galego face servir a interesses inter-generacionais espúrios fora das nossas reclamas. Cada vez mais jovens cremos que temos que abrolhar diversas, enraizando nas nossas realidades e comarcas, crescendo diferente segundo o que nos achegue o terreno que pisamos e nos viu medrar, à margem de processos que culminam na homologaçom juvenil da institucionalizada e assimilada polo regime “nova política”, fora de últimas oportunidades eternas que representam a comodidade e a falta de imaginaçom e valentia política, fora de fracassos buscados de forma taticista e penosa coma o que representa a legenda de autodeterminaçom e as ruas de Compostela nutridas de bandeiras da UMG na tardinha do último 24 de julho, fora de dinâmicas de mesas de debate já incapacitadas para garantir unidade algumha, mas nom por isso menos conscientes e duramente auto-críticas com o nosso próprio agir. Conscientes da marginalidade e parálise do independentismo revolucionário, aquele que sempre mostrou indiscutível coerência, honestidade e compromisso com os interesses da classe trabalhadora galega mas também, e até agora, incapacidade para re-organizar-se e adaptar-se aos cámbios inerentes à realidade. Sabemos que a crítica e auto-crítica pública nom só nom queima, se nom que purifica, e ajuda a apertar mais os dentes e contribuir no longo caminho que resta.
Nem somos ilusas nem praticamos a fé milagreira numha vitória segura. Somos profundamente conscientes das que somos, e de todo o que temos por construir e avançar. Queremos ser para nós mesmas, tecer os laços coletivos para nos impulsar. Com muros que tirar, mas sabendo que bloco a bloco seram derrubados e tendo claro que ao carom da assembleia se sentam as pessoas com as que partilhamos trincheira, as que cuidar e com as que sem dúvida crescer, combateremos forte na batalha ideológica que está por vir, organizaremos na rua a raiva dos nossos bairros, mediremos forças, tensaremos a corda. A tarefa de reorganizar o movimento juvenil galego, tem de seguro que desbordar constantemente para ganhar, tomaremos formas líquidas em cada marco, seremos diferentes, seremos o que cada realidade concreta nos demande.
Esta é umha tarefa complexa e distinta, mas sem dúvida precisa. A tarefa de criar, impulsar e pular por espaços autónomos de jovens, que se encontrem ligados à sua realidade, identidade e situaçom comarcal. Espaços horizontais de construçom e empoderamento, de valentia, camaradagem, de folgos e apoio mútuo, de audácia. Espaços para todas e cada umha das jovens populares e subalternas galegas onde resolver cada problemática concreta e politizar a quotidianidade.
Espaços de hábitos diferentes aos que nos impóm o poder adulto. Onde dedicar-lhe tempo à nossa emancipaçom, de forma criativa e intensa, espaços onde cumprir os objetivos que nos marquemos de forma coletiva e através de debates honestos, onde enriquecer-nos com a diferença e a mestizagem e que ambas sejam motivo de ledícia e nom de competência. Desde a perspetiva do socialismo, o feminismo e a independência, praticar umha militáncia juvenil esperta e viva, com iniciativa e criatividade e que contraste com o acelerado avelhentamento da populaçom galega. Umha militáncia à margem do poder adulto mas sem por isso renegar de trabalhar com jovens e nom tam jovens mao a mao pois somos conscientes da necessária unidade da classe, da necessaria organizaçom das mulheres e homens galegos que precisamos para defender os nossos interesses frente ao projeto de acumulaçom de capital que representa Espanha e que tem no Patriarcado o seu mais fiel aliado.
Sendo firmes nos nossos objetivos, com inteligência política e trabalho deixamos a nossa aposta estratégica. Seremos a erva que cresce na margem, andaremos e inundaremos o asfalto. Desbordaremos limites e auto-organizaremo-nos como poder juvenil, rua a rua, bairro a bairro, vila a vila, as jovens da classe trabalhadora galega seremos a República Galega em construçom.