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Diário Liberdade
Sábado, 09 Setembro 2017 01:32

A criminalizaçom da democracia

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Ramiro Vidal

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Quê tempos estes, da postmodernidade passada de voltas, nos que a linguagem se reinventa e os conceitos também. Quê é democracia e quê é ditadura?


Nos tempos que correm um mandatário democraticamente eleito pode ser um ditador, se a CIA ou o Financial Times o assinalam como tal... outros puiderom ter sido ditadores durante toda a sua existência política, mas apenas ser assinalados como tais quando aparecem sobre o mapa como elementos queimados ou como líderes que colidem com os interesses do imperialismo.

Durante muito tempo o axioma supremo sobre democracia era que nas democracias se votava. Que se votava os governantes e representantes do povo, e que às vezes questons muito importantes se submetiam a referendo. Parece que ultimamente isso já nom é exatamente assim. Dizia Rajoy ontem mesmo que o importante numha democracia nom era votar; que o mais importante era respeitar a lei.

Sim, estamos nuns tempos complicados de compreender. Estamos nuns tempos nos que Chávez ou Maduro som tildados de ditadores, enquanto nom se utiliza nem umha soa vez a palavra “ditadura” para referirmo-nos a qualquer monarquia árabe. Sim que se utilizava ultimamente a etiqueta de “ditador” para falar de Gadaffi ou de Mubarak. É curioso, porque falamos de dirigentes que levavam governando os seus respeitivos países quarenta anos, e falamos de realidades bem cercanas a Europa... poucos kilômetros nos afastam das terras do Magreb e além disso Marrocos, Tunísia, Egipto, Argélia, Líbia... som países receptores de turismo europeu. Deveriam ser palpáveis as condiçons de pobreza e falta de liberdade nas que vive lá a maioria da populaçom. Para outras realidades sim que temos as antenas postas, é mais; se viajarmos a Cuba ou Venezuela vamos pré-dispostos a que nos confirmem o que queremos acreditar. Ocorrem-se-me vários factores a jogar nesta contradicçom... hipocrisia, cinismo, racismo... a questom é que só nos indignamos com aquelas ditaduras quando à Europa e aos Estados Unidos lhes interessou acabar com elas e depois... depois pré-supomos que esses países tenhem a dia de hoje governos democráticos, mas nom é assim. Todo o mundo esqueceu esse Magreb que berrava pola liberdade e o pam. Pronto esses países voltarám ser destinos turísticos amplamente solicitados e ninguém contará histórias de sobrecolhedora pobreza e brutal repressom.

O voto como acto democrático

Complicados esquemas estes que delimitam as fronteiras do que é democrático e o que nom. Se o importante numha democracia é respeitar a lei, entom a oposiçom venezuelana que se di democrática nom é tal. Utilizar métodos de luita criminosos, como a compra de votos, o terrorismo sicário das guarimbas ou os chamados a liquidar cadros do chavismo, nom é precisamente um comportamento respeitoso com a legalidade.

O mais revirado de tudo é a criminalizaçom da democracia nas suas expressons mais radicais. Talvez o mais importante numha democracia nom seja votar, ainda que desde logo o sufrágio é umha forma de expressom induvidavelmente democrática... o que converte em absurdo qualquer intento de caraterizar umhas eleiçons ou um referendo como um “acto de totalitarismo”. Sim, na democracia consensua-se, dialoga-se, debate-se, respeitam-se as regras de jogo, mas também, sem lugar a dúvidas, vota-se.

Mas as fábricas do novo pensamento pró-capitalista criminalizam o acto democrático de votar. Criminalizarom o referendo grego, depois o referendo escocês, a seguir o referendo do Brexit, mais tarde o venezuelano e agora o catalám. Criminalizam a possibilidade de que as urnas abram portas a novas realidades.

O referendo grego foi um referendo nesgado onde nada era o que parecia, já que nengumha das duas vias que se apresentavam como opçom punham em causa a pertença à UE da Grécia; isso sim...simbolicamente representava a possibilidade de dizer-lhe que nom à troika. Todo um desafio para a nada democrática UE (por certo, quem escolhe os que mandam de verdade no “cacharro” europeu?).

O referendo escocês era perfeitamente legal; agora bem, nem em sonhos aplicável à Catalunya, e por suposto “seria um desastre” que o povo escocês quixera marchar do Reino Unido. Muito temo que, ainda que evidentemente na Grande Bretanha nom gostam da ideia de umha Escócia independente, tal panorama cause mais medo em Madrid do que em Londres. Porque claro, se se celebra um referendo na casa de um vizinho, o povo se pronuncia, e o mandato popular se executa sem maiores incidentes... é difícil que depois tu poidas ameaçar com o caos e o desastre se no teu território se segue o mesmo roteiro.

O do Brexit, enfim... que umha potência como o Reino Unido decida que se apea desse clube ao que há que pertencer a toda costa e ao que todos teimam em acceder (Turquia leva anos aguardando) rompe os esquemas. Chegou dizer o Pedro Sánchez: “isto é o que acontece quando se deixa em maos dos cidadaos assuntos que tenhem que decidir os políticos”. O povo nom é infalível, e os políticos também nom o som. Mas algumha cousa estará a falhar quando os cidadaos britânicos tenhem a percepçom de que estar na UE nom lhes compensa.

Com Venezuela, o de sempre... desinformaçom. Há um referendo? Acto anti-democrático do governo. O que vale é o referendo da oposiçom, cujo resultado se desconhece e cuja celebraçom nom foi validada polo Comitê Eleitoral, por nom reunir as condiçons legais (apesar de que, segundo Rajoy, o importante na democracia é respeitar as leis). O referendo convocado a nível oficial era um referendo maligno e satânico, porque, claro, os que mandam na Venezuela som malignos e satânicos. As eleiçons constituíntes que terám lugar proximamente também serám malignas e satânicas, apesar de que há partidos da oposiçom que vam participar nelas. Ridículo.

A democracia deve vencer

Na Catalunya, a negaçom de toda possibilidade de que o povo se pronuncie, parece que é o posicionamento democrático. Seria alucinante, se nom for que, para desgraça minha, sou cidadao espanhol por graça do bilhete de identidade e estou afeito às tortiçarias destes franquistas de escola bourbônica. Pretender que se vote é anti-democrático. Continuam com o mantra de que há que respeitar a legalidade. Umha legalidade que eles próprios nom respeitam e se orgulham em desobedecer quando nom lhes favorece. Por certo que nom som os independentistas cataláns os que se oponhem a seguir o itinerário marcado polas leis para convocar um referendo... som os anti-independentistas os que bloqueam essa possibilidade. Contra a vontade da maioria do povo catalám.

Naturalmente, eu acho que o mandato superior na democracia é a vontade popular e nom as leis. Se as leis nom som quem de dar resposta a umha situaçom, som as leis as que falham. Claramente as leis espanholas estám sendo superadas pola situaçom, mas o pior de tudo é que a classe política espanhola também. O povo quer votar e decidir, os políticos devem pôr as condiçons para que o povo vote e decida. Alegarám a isto que sobre a independência de um território sob administraçom espanhola é toda a cidadania espanhola quem deve decidir...proponhem um bucle que já sabemos como acabaria rompendo-se (alguém é capaz de imaginar um desenlaze que nom for violento?) Ainda assim, nem a isso estám dispostos; ao povo nom se lhe deixa falar, apenas ser corifeo dos recitados sem sentido dos políticos espanhois...parecem sacerdotes em trance proferindo versículos de um livro sagrado com significado escuro e cuja interpretaçom só lhes corresponde a eles.

A panaceia na Catalunya nom será votar, mas sem dúvidas que passará por votar. Ainda que alguns pretendam criminalizar a democracia.

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