Nem que seja brevemente, e por tentar apontar as suas fraquezas, vamos comentar o discurso de Monedero nesse vídeo, com 4 minutos de duraçom, que pode ser visualizado neste link:
Após umha referência erudita inicial à histórica renúncia do SPD alemám ao marxismo nos anos 50, o professor passa a justificar umha cousa e a contrária na hora de legitimar as posiçons do seu partido. A conclusom é que a estratégia de Podemos se identifica com os cinco pontos fundamentais do programa do SPD pós-marxista: a luita contra as desigualdades, as políticas keynesianas, a defesa do Estado social, a economia mista e o liberalismo político.
Até aí, todo compreensível: o marxismo assustaria o eleitorado e o mundo do trabalho ficou tam complexo que seria preciso avançar para umha proposta política de tipo interclassista, através de umha estratégia eleitoral de defesa da soberania nacional frente ao poder dos “mercados internacionais”.
Onde está entom a contradiçom?
Primeiro, na afirmaçom explícita –e correta– sobre a impossibilidade de um “capitalismo humanizável”. Ligando diretamente com Karl Marx e com outros muitos cientistas sociais, o professor madrileno lembra que o metabolismo social capitalista responde a umha lógica incontornável e trituradora (o “moinho satánico” de Karl Polanyi). Ora, ao invés disso, a social-democracia representa historicamente a tentativa de construir esse irrealizável “capitalismo humano”.
Segundo, na exploraçom eleitoral do discurso social-democrata por parte de Podemos, com o objetivo declarado de “nom assustar” (sic). Se de facto a social-democracia dos cinco pontos da viragem pós-marxista do SPD alemám dos anos 50 carece hoje de espaço, inclusive na Alemanha, que sentido poderá ter apostar nessa via?
Qualquer ideologia que aspire a um mínimo contraste científico com a realidade deverá reconhecer que a luita contra as desigualdades bate com a essência histórica do capital. A crítica da economia política demonstrou suficientemente que a exploraçom de força de trabalho humana, única que cria valor, constitui a chave de abóbada da arquitetura capitalista. Retirando a mercadoria força de trabalho do sistema, o edifício capitalista nom se manteria em pé nem um minuto. Igualdade social e lucratividade capitalista constituem, portanto, umha contradiçom irresolúvel no interior desse edifício.
Por sua vez, as políticas keynesianas e a dita “economia mista” dificilmente servirám para retomar a “harmonia” dos chamados estados de bem estar europeus dos “30 anos dourados”, até porque para isso precisariam da prévia e massiva destruiçom de forças produtivas (duas guerras mundiais sucessivas) que possibilitou a retomada do processo de acumulaçom até a crise dos 70. De onde poderám sair desta vez os recursos para o novo Estado social, se nom for da expropriaçom da classe burguesa? Claro que, para Monedero, nem sequer por essa via chegaria a saída da crise, pois ele considera que “o fim do mundo do trabalho (sic) nos obriga a repensá-lo todo...”
Terceiro, na defesa da soberania nacional espanhola, na perspetiva de enfrentar o poder “dos mercados”. Neste caso, a contradiçom de Monedero e Podemos está manifestada na açom do governo grego de Syriza, permitindo-nos afirmar sem lugar a dúvidas que nem Syriza nem Podemos questionam o papel dos mercados, limitando-se a negociar com o grande capital europeu umhas condiçons de submetimento mais “suportáveis” a umha dívida tam injusta como impagável.
Por outra parte, como galegos e galegas, nom podemos esquecer o que a “soberania nacional” de Juan Carlos Monedero significa: umha aposta renovada na consolidaçom da “pátria espanhola”. Nom fai falta dizer que isso só será possível a partir da radical negaçom da soberania de várias naçons, como a nossa, atrapadas no interior das suas fronteiras. Nem por essa via, nem pola da abstrata democratizaçom através do “liberalismo político”, se abrirám perspetivas de verdadeira democracia para os povos. De facto, nengum dos sucessivos regimes “liberais” espanhóis foi capaz nunca de garantir nem sequer o direito fundamental do povo galego à língua própria. Que outra cousa poderíamos esperar da “pátria liberal” de Monedero e Iglesias?
Em definitivo, e para nom ficar na crítica total a Monedero no vídeo que comentamos, quero valorizar o ataque de sinceridade com que acaba o seu discurso, quando afirma: “...receio que, com tais propostas, Marx, se hoje vivesse e tivesse 40 anos, abandonaria qualquer dos partidos que se apresentam às eleiçons”.
Aí concordamos.