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Diário Liberdade
Segunda, 11 Junho 2018 10:57 Última modificação em Segunda, 11 Junho 2018 11:12

A desigualdade social vista pela elite

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Zillah Branco

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A elite defende a sua ideologia - de domínio de uma classe "mais abonada e com títulos superiores" - com pleno conhecimento da pobreza dos trabalhadores, portanto da injusta distribuição da renda, que são a força de trabalho e os consumidores dos produtos.


Sabem, portanto, que devem mantê-los apenas vivos para cumprirem a função de motor social que a enriquece. A visão da "triste realidade" constrange os "bem intecionados" que distribuem esmolas consoladoras. São os sociais-democratas que se equilibram sobre o muro entre a política de direita (elitista) e a de esquerda (que reivindica os direitos humanos para todos).

Isto fica explicitado em textos de revistas produzidas por "mecenatos" criados por grandes empresas, que expõem através de diferentes autores eruditos de várias nacionalidades, as dúvidas que traduzem como "paradoxos" as realidades "injustas" que resultam de intenções beneméritas e defensoras do "bem estar social". Com coisa que a realidade obedece aos planos da elite para manter a sociedade em paz e dúctil aos gestos de boa intenção que eventualmente revela.

Com termos diferentes e confusos, chegam ás mesmas conclusões que ha duzentos anos Marx e Engels explicitaram, de forma objectiva e clara, na análise do sistema capitalista que acumula riquezas nas mão da elite dominante, extraídas através da exploração da classe trabalhadora. Mas não expoêm esta evidência (para quem olha a sociedade de baixo para cima) porque usam uma lente protetora das "boas intenções" da social-democracia. Pretendem que os explorados também possam usá-las para, em lugar de exigirem os seus direitos como trabalhadores vejam a "impossibilidade" de alterarem o regime de exploração que garante o lucro aos ricos. Em Portugal o governo de Antonio Costa "não pode descongelar os salários dos professores porque não tem 600 milhões de euros" (que paga a título de dívida bancária à União Européia). Parece tratar-se apenas de uma questão aritmética para a social-democracia.

Assim como se esforçam divulgando pensamentos generosos e lúcidos em uma revista regida "por princípios deontológicos e pela ética profissional do jornalismo garantindo uma atitude de respeito e integridade", como fazem constar do Estatuto Editorial (1) de uma bela edição, creio que devemos ler com atenção a sua versão da realidade (que é diferente daquela dos que lutam pelos direitos sociais), e que "honestamente" chega à triste conclusão de que "o discurso realista é um discurso autoritário. A sua versão do mundo (...) não admite qualquer ambiguidade: "liberdade", "sociedade", "trabalho", "valor" ou "capital" são operadores fixos de um léxico abstracto e auto-referencial (...) " conduzindo à idéia de que "tudo o que é tem de ser", "não existe alternativa".

Esta visão pessimista aparece em outros artigos, como por exemplo ao expor o conceito de Rendimento Básico Incondicional - que foi proposto para enfrentar o resultado da política a favor do Estado Mínimo e da automatização da indústria - "provocará o desaparecimento de 5 milhões de empregos até 2020 e promoverá o precariado como norma de contrato de trabalho". Reconhecem que, mesmo que consigam seguir os bons princípios sociais-democratas "de todos para todos" para prevenir a hecatombe da classe trabalhadora "criando impostos sobre a riqueza para manter subsídios para os desempregados, cairá o consumo dos produtos industriais, os cidadãos ficarão alienados sem participar da vida social e a desigualdade será aprofundada."

Revelam que "ao mesmo tempo em que se impõe o Estado Mínimo, o aparelho do Estado norte-americano que em 1929 consumia 7% do PIB passou a 40% na actualidade" (sem esclarecer que reduziu os serviços sociais mas alimentou o parasitismo dos privados e em 2008 investiu na compra das dívidas dos bancos privados para salvá-los da falência). O mesmo filme que assistimos em Portugal presentemente, enquanto o sistema de saúde e a escola pública perdem a qualidade adquirida no processo revolucionário de Abril em 1974, por agora faltarem recursos orçamentais para contratar os funcionários e manter os equipamentos, enquanto favorecem as empresas privadas com as suas inovações para as camadas mais ricas da população.

Ao contrário da esquerda, que exige soluções concretas para os problemas criados por uma política errónea imposta pela União Europeia (que promove o neo-liberalismo e o fim da soberania nacional para prevalecer um governo globalizante subordinado às regras do chamado mercado livre), insistem em manter uma "ideologia" do poder, que não é utópica - já que sabem que a estrutura criada não vai cumprir, como explicam as análises eruditas e, abstratamente bem intencionadas, com base na falsa democracia apoiada em "paradoxos" que comprovadamente levam o sistema para a crise final sem verem uma saída. Culpam a realidade contrária a ideologia utópica.

Paradoxo, para início de conversa, é a divulgação de análises críticas ao sistema capitalísta responsável pela realidade injusta por quem obtem grandes lucros na deficiente distribuição das rendas e, simultaneamente exerce funções de mecenato na área da cultura, atravez de uma bela revista "com respeito e integridade". A imagem que fica é da "pescadinha com rabo na boca".

Mas, é interessante conhecer o pensamento de uma elite, que tem tempo e recursos pessoais e de instituições privadas, para ser capaz de denunciar as falências do sistema que defendem. Referem, por exemplo, a total deturpação dos objectivos com que foi criado o Museu Pompidou em 1977, que abriu as suas instalações para receber gratuitamente os que se interessavam pelo conhecimento da arte nas suas multiplas tendências e hoje está transformado em um supermercado de arte com bilheterias em todos os andares. Isto nós também conhecemos em Portugal onde a indústria do turismo criou bilhetes para visitar jardins e locais antes abertos ao público.

É importante saber o que a minoria mais abonada da sociedade pensa, porque eles também são críticos ao defenderem a sua utopia do "bem comum" e têm a possibilidade de estudar nos mais altos niveis das instituições do saber criadas com o apoio do Estado, portanto do contribuinte, para desenvolver capacidades técnicas ou artísticas que poderiam beneficiar a sociedade (se não houvesse a realidade autoritária da desigualdade social mantida pela ambição do poder dos que acumulam o capital).

Seria interessante se, nos seus artigos divulgados por mecenas, analisassem filosóficamente o problema da introdução no ensino médio (revelado recentemente através da TV) do conhecimento das facilidades oferecidas pelos cartões de crédito e até do "bitcoin" para que os jovens se habituem a "fazer a gestão" financeira sem ficarem presos às moedas que têm nas algibeiras. Esta novidade tem em vista a futura sociedade robotizada, quando desaparecer o dinheiro. Não se esqueçam de lembrar que os recursos dos jovens pertencem à família, portanto a gestão deve ser centralizada por quem obtem os rendimentos do trabalho, e que a alienação dos jovens em torno das finanças pode dar maus resultados em termos éticos e de dignidade pessoal. E, já agora, que a realidade vai piorar muito para quem utópicamente pretende "o bem estar social".

1Revista "Electra" número 1, Março /2018, da Fundação EDP

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