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Diário Liberdade
Segunda, 04 Julho 2016 23:41

Confissões de um ex-isolata

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Alberte Momán

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Desde que li o Rei Lear, sempre acreditei na figura do bufão como ferramenta para fazer evolucionar as ideias.


As minhas opiniões, desde então e as mais das vezes, foram desenvolvidas tão só para propor formas diferentes de pensar, ainda quando nem eu próprio poderia acreditar nelas tal e como ficaram expostas. É por isso que hoje vou começar dizendo que Galiza não existe. Se é pela cultura mais a fala Galiza não existe além da necrofilia daquelas pessoas que procuram satisfação mexendo nos mortos para defender a ideia de que fora deles não há pais. Fazer um pais a través dos mortos é erguer os piares de um museu imenso e nesse imobilismo dar por feito que chegou o tempo de celebrar a derrota. Cada dezassete de maio celebra-se que o isolacionismo morreu um bocado mais. O reduto dos e das resistentes faz-se ano após ano mais pequeno, mas continuaram a celebrar a morte. Olham para as instituições públicas solicitando um novo recheio fronte a crescida do mar, se calhar um muro para conter as ondas, mas a ilha mingua e mingua sem remédio. Porque o remédio não se topa nos muros nem nos recheios, senão em considerar que a terra firme está muito próxima e a construção de pontes pode salvar as pessoas que habitam a terra mínima. As pontes podem unir com quem tem a capacidade de acolher a galegos e galegas como variantes de um mesmo tudo, ou, pelo contrário, dirigir cara a quem quer refugiados numa nova ilha de silencio.

Não vou dizer que sou reintegracionista. O mais que eu posso ser neste momento é ex-isolata. Mas sei que a defesa das formas que construiram o presente tal e como o percebemos hoje, aprofunda ainda mais na derrota, na morte do pais que foi possível construir com o nome de Galiza e que existe na mente de muitas pessoas, com diferentes formas, em função dos distintos materiais a empregar. Não vou dissecar a Carvalho Calero en diferentes porções. Não há um Carvalho Calero sociolingüista, do mesmo jeito que não há um Carvalho Calero romancista. Há uma pessoa que cultivou em diferentes modos a cultura galega. Então, como um todo, não acredito que a figura dele seja o que este pais precisa para uma evolução normalizada não só da língua, senão também da cultura e do pensamento. Mas, virando para o outro bando, devo dizer que também não acredito noutra figura fulcral para o isolacionismo galego, o Manuel María, que está tanto na moda nestes últimos meses. Não acredito que a visão nostálgica da realidade agrária, por exemplo, seja uma forma válida para fazer compreender ás nossas crianças a actualidade e viabilidade da cultura de nosso. Não há carros de tracção animal no Matodoso, lá na Terra Chá. Não há porque nenhuma pessoa precisa mais deles. Agora são os Jonh Deere ou os Massey Ferguson a cantar pelos caminhos. Reconheço que teria gostado de ver muitos Barreiros a circular pelas nossas estradas, ou mesmo que a Uro começara a fabricação de tractores de uso agrário, mais a Galiza não viu as possibilidades de empreender essas novas linhas de negócio. Nenhuma criança do Matodoso pode ver o galego, isolacionista ou reintegrado, como uma língua de futuro, se as expressões culturais tenham como referente uma realidade tão distante como a do Manuel Maria. Desde o ponto de vista educativo, eu não desejaria ver as minhas crianças amadurecerem adoptando os valores conservadores do Carvalho Calero. Sei que toda criança deve conhecer os contextos históricos e as figuras que viveram aquele tempo e construiram o nosso presente, mas vejo que os seus referentes devem ser aqueles que construam o futuro. E o futuro não pode cimentar-se nos valores duma sociedade educada numa ditadura, que reproduz, ainda sem o querer, as tradições daquele tempo. E nesse sentido a Galiza para existir, deve procurar sair da sua ilha para confrontar o mundo, para ver-se situada em um contexto internacional, renunciando as visões que a cingiram à Espanha e virando cara os seus relacionamentos naturais, muito mais próximos a Angola do que a Melilha, por falar de terras que foram colonizadas pelos imperialismos peninsulares. Os valores que defendera a necrofilia oficial, foram os mesmos que nos ligaram a uma Espanha decadente que impossibilita, já não só uma aproximação ao entorno das falas do português, senão também a uma perspectiva de Galiza como pais com identidade própria. Galiza não pode ser mais um não lugar, deve abrir portas e janelas para ver o que há lá ao longe, além de todas as fronteiras, e construir o futuro a partir do que fica por conhecer. A língua será, por tanto, uma ponte cara o conhecimento. E porque a língua não é só uma ferramenta para comunicarem-se as pessoas, senão que é um instrumento para compreender o mundo, melhor experimenta-lo por meio de um sistema de comunicação que nos ligue ao que com efeito já somos.

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