Se acharmos que lá chegamos com o velocímetro no máximo, podemos não ter forças para cruzar uma meta que não sabemos onde está. Como cantou Taiguara, o mais perseguido dos cantores brasileiros, "quem só espera não alcança e quem não sabe esperar erra feito criança".
Pouco mais de um ano antes da revolução de Outubro, Lénine acreditava que não veria qualquer revolução em vida. A tristeza de quem acha tudo previsível é não organizar o imprevisível. Não avançar porque se tem medo de falhar é não perceber que em colectivo errar nunca é perder. Por isso é que às vezes custa tanto sorrir como disparar. Quando sobra tristeza e bolsos vazios, não é fácil esboçar mais do que luto num rosto caído. Mas quando confiamos no sentido dos nossos passos, não é assim tão difícil que a curva dos nossos lábios se abra para o lado certo da barricada. Até os músculos da fronte são pardos na mais escura das noites e custa menos sorrir como disparar.
Portanto, se vos disserem que a história acabou sorriam, se vos disserem que o capitalismo venceu sorriam e se vos disserem que as revoluções são coisas do passado sorriam. Sorriam como sorriram os escravos depois da morte de Espartaco. Sorriam como sorriram as mulheres e homens depois do fuzilamento de milhares de operários quando caiu a Comuna de Paris. Sorriam como sorriu o povo russo depois do massacre de São Petersburgo. Sorriam como sorriram os combatentes cubanos depois da derrota em Moncada. Porque só assim a semente do futuro voltará a brotar para que colectivamente possamos tomar o céu de assalto. Uma e outra vez. E se somos bisnetos de Outubro e filhos de Abril, cabe-nos pavimentar o presente para conquistar o porvir.