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Diário Liberdade
Quarta, 17 Agosto 2016 13:03 Última modificação em Sexta, 19 Agosto 2016 01:12

A falácia da fome na Venezuela

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Ilka Oliva Corado

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[Ilka Oliva Corado, Tradução de Raphael Sanz] Me pergunto para onde está indo o senso comum das pessoas, o que está acontecendo com a inteligência e com a capacidade de raciocínio? Estamos nos deixando levar pelo que nos impõe as grandes corporações da midiatização mundial. Onde está nosso poder de resistência, de questionamento e o nosso direito a duvidar? Por acaso deixamos arrebatarem até mesmo nossos instintos?


A quem ocorre que haver fome na Venezuela por conta do atual governo: quando saem aquelas feridas expostas em redes internacionais, afins ao capital, de dezenas de mulheres bem aparentadas, bem nutridas, e com certo sobrepeso, vestidas de branco – como as Damas de Blanco em Cuba, ou quando as oligarquias latino americanas saem a protestar buscando dar golpes de Estado sobre presidentes progressistas – cruzando a fronteira para a Colômbia para comprar produtos venezuelanos que foram roubados da Venezuela e revendidos na Colômbia, pelas presepadas com as quais buscam desestabilizar o atual governo como parte de um plano estratégico da guerra econômica contra Venezuela.

Há necessidade, claro que sim, e há pobreza, também. Males de séculos não se podem curar em meses nem em passe de mágica. Contra isso está trabalhando o governo de Maduro, buscando erradicar essa pobreza, apesar dos inumeráveis ataques em comboio daqueles que buscam impor um sistema neoliberal naquele país, arremetendo contra seu próprio povo e sacrificando-o com o objetivo de conseguir benefícios para as corporações de uns quantos.

Arremetem contra o sistema de saúde, de educação, contra a infraestrutura, a agricultura, em distintas frentes, em uníssono, constantemente para fazer cair o sistema progressista implementado por Chávez. Para que? Para que encham as contas bancárias daqueles que pretendem pôr aos pé do capital estadunidense e mundial: aqueles que odeiam a Venezuela. É uma regra de três sem maiores complicações. Pode-se compreender em um parpadear, saltando corda ou jogando par ou ímpar. Por que nos custa compreender o simples?

Uma pessoa que sofre de fome apresenta um quadro clínico visível, nenhuma das pessoas que saem se desorientando com a própria saliva, em entrevistas para meios de comunicação internacionais de caráter. Por que os meios de comunicação que falam de fome não entrevistam pessoas que podem evidenciar com provas que esta não existe a consequência do atual governo?

Agora bem, falando propriamente de fome, aí está Guatemala, El Salvador, Honduras, México, Haiti e Colômbia como exemplos bem claros do que fazem os governos com seu próprio povo. A quantidade de pessoas que estão morrendo por não terem o quê comer, por não terem um sistema de saúde que as atenda a tempo. Por não terem um governo com um sistema de caráter preventivo que invista no que é mais urgente. Por que essas que são verdadeiras crises humanitárias não são vistas pelos meios de comunicação internacionais? Aqui mesmo nos Estados Unidos há fome, morrem milhares de pessoas que não têm acesso ao sistema de saúde, que vivem na miséria. Que morrem de frio no inverno porque não têm dinheiro para pagar a calefação. O que dizem disso as grandes corporações midiáticas de caráter empresarial? Calam-se.

Não é tão difícil entender a razão pela qual as massas entorpecidas acreditam no que dizem os noticiários, se têm como referência meios como Univisión, Telemundo, CNN en español e El País, que infestam a América Latina. E a quadrilha de meios de comunicação nacionais criados por essa corja de empresários, oligarcas e pelas embaixadas dos Estados Unidos, com a única finalidade de transformar – como na educação superior – as mentes e o raciocínio em uma massa amorfa, manipulável às ordens de uns quantos criminosos que a manipulam.

“Fácil falar estando nos Estados Unidos, venha viver na Venezuela” é o argumento comum daqueles que apoiam este tipo de intervenção exterior, daqueles que não têm identidade e clamam pelo fim da “ditadura” de Maduro. O que não dizem é que são pessoas que vivem na comodidade da classe média alta, da burguesia e da oligarquia, que durante anos se serviram do sistema e que agora estão vendo como o povo que humilharam e marginalizaram tem a oportunidade de viver com dignidade. Acesso a educação que lhes foi negada durante séculos, um prato de comida na mesa, teto, acesso a saúde. Uma vida integral.

Pessoas com contas bancárias no exterior, com luxos, férias no exterior várias vezes por ano, que chegam aos Estados Unidos a celebrar o 4 de julho como se fosse festa própria. Que têm até três empregadas domésticas e duas cuidadoras de crianças, e as vestem em uniformes e as mandam comer as sobras no quintal, em pratos que não devem se misturar aos da família. Trabalhadores a quem não pagam salários justos e obrigam a trabalhar desonrantes horas extras. Este tipo de gente é quem está pedindo intervenção estadunidense no país. Se vive nos Estados Unidos dará voto a Hillary Clinton para que assim o faça.

E se vive na Venezuela ou em outro país do mundo, têm empregados a quem exploram e discriminam. E se fazem de alfombra e às ordens de qualquer estrangeiro que queira destroçar a Venezuela.

Esse tipo de gente que não denuncia que em La Guajira, na Colômbia, as crianças morrem de fome. Ou que no Haiti, os capacetes azuis da ONU estupram crianças, meninos, meninas e mulheres em troca de um biscoito. Que não denunciam a Patrulha Fronteiriça dos Estados Unidos que realiza caçadas contra os indocumentados. Que não denuncia que o governo Peña Nieto está massacrando sua própria gente em um genocídio que faz o México sangrar.

Que não denuncia Macri que está regredindo a Argentina à miséria de onde Néstor e Cristina a tirou. Que Temer está implantando o sistema neoliberal no Brasil e está recortando políticas sociais de benefício para as favelas, que tanto lutaram Lula e Dilma. Que na Guatemala continuam governando os militares que têm o país desmoronando em uma onda de violência governamental disfarçada de comum.

Gente que não denuncia que o paramilitarismo na Colômbia destroça os mais necessitados. Que há na Guatemala mais de 200 mulheres grávidas após estupros ao dia. Que o triângulo norte da América Central sofre uma crise humanitária perene, assim como o México: causada por um sistema neoliberal. Que no México desaparecem dezenas de pessoas por dia, que os feminicídios tal como em Guatemala, El Salvador e Honduras são o pão nosso de cada dia. Cabe perguntar, quantos feminicídios por dia passam na Venezuela.

Esse sistema neoliberal que querem retornar a implementar na Venezuela os beneficia expressamente, porque exclui as maiorias. Conta com a mente colonizada por seu caráter racista e classista, por sua insensibilidade não têm capacidade de ver as necessidades dos demais. É este o tipo de gente que pede o fim do governo de Maduro e o chama de ditadura, por significar oportunidade para os párias, os mesmos que utilizam como serventes. Pedem que a Venezuela regresse aos tempos das intervenções e dos ecocídios, de opressão policial, de violência militar. Querem que a Venezuela volte a ser terra de saques e torturas, terra de vassalos.

Na próxima vez que nos digam que a Venezuela vive sob uma ditadura, que é urgente libertá-la, pensemos em como vivemos em nossos países e que tipo de governo é o que escolhemos. É muito importante pensar na fonte de informação: quão confiáveis podem ser certos jornalistas e meios de comunicação afins ao capital? O que está em jogo e por que os importa tanto nos convencer? Por que nos bombardeiam constantemente com a crise humanitária na Venezuela e por que não dão a mesma importância a verdadeiras crises humanitárias que se vivem em outros países do continente? Ao genocídio que se vive no México, por exemplo, que é urgente.

Precisamos apenas de um pouquinho de bom senso para não permitir que joguem com nossa inteligência e não podemos deixar que a insultem. Necessitamos simplesmente sermos humanos. Na próxima vez que pensarmos na Venezuela, façamos um exercício de raciocínio e permitamo-nos pensar por nós mesmos, é nosso absoluto direito e é nossa obrigação defendê-lo. E quando nos digam que “Maduro é um ditador”, pensemos no que temos como presidentes nos nossos países, e já veremos que muitos vão preferir ter um “ditador” como Maduro. Não é um conto.

Blog da autora: https://cronicasdeunainquilina.com/

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