[Ilka Oliva Corado, Tradução de Raphael Sanz] Não há muito por onde escolher, por um lado os democratas com sua dupla moral e por outro os republicanos e seu fervor ao fascismo e a Ku Klux Klan. Os estadunidenses se verão obrigados a votar por qualquer dos dois personagens catastróficos tanto para a política interna como externa do país. Um passo adiante leva Hillary Clinton de vantagem, quando toca no tema do sexismo e dos direitos das mulheres; e é aí quando o feminismo caucasiano, branco e burguês se acende e vence. Também um ou outro liberal que a vê como a irreverência ao padrão patriarcal.
Mas Clinton fala dos direitos da mulheres brancas e burguesas, não das brancas pobres, nem das afro descendentes e muito menos das latinas indocumentadas; há preconceito e distorção em seu discurso de dupla moral e o sabem bem todos, porém dissimulam de acordo com a conveniência.
Por sua parte Trump demonstra sem pestanejar o misógino que é e o que representará para a mulher estadunidense ter um presidente como ele. Algo como o que representa para a comunidade afro descendente ter um presidente como Obama. Felizes os machos alfas que se sentem muito bem representados por Trump, não surpreenderá que se imaginem desde já a quantidade de crimes e abusos que possam cometer em casos de violência sexual e feminicídios, e que saiam em liberdade sem qualquer punição; tal como acontece aos policiais brancos quando matam um afro descendente.
Tampouco se surpreenderá que sendo Clinton a presidenta do país, também prossigam negando visto tipo U para as mulheres indocumentadas vítimas de crimes e atos violentos; e ainda as inventem taxas e punições que façam com que sejam deportadas de imediato. O fato que Clinton seja mulher e se auto intitule feminista não significa nada, não para a justiça em si e a igualdade de gênero, muito menos para as políticas de inclusão social.
Também deplorável é que ambos candidatos apoiem a invasão estadunidense na Síria e que apostem seguir bombardeando a região. Sem um ápice de humanismo falam com clareza e sobem o tom: arrogante, egocêntrico e com o senso de superioridade da classe política estadunidense, que se acredita dona do mundo. O deixam claro: a invasão da Síria continuará a todo vapor com Trump ou com Clinton.
Com uma inteligência de pensamento superior, Clinton fala de humanismo ao se referir à violência que sofrem em mãos da polícia as comunidades afro descendentes, mas isso não é nada novo, com a mesma lábia o fazia Obama e os resultados são visíveis. A Clinton ninguém nega a capacidade oratória nem a inteligência cultivada, tampouco seja uma conquista (apesar de tudo) que uma mulher esteja a ponto de ser a primeira presidenta dos Estados Unidos, mas essa é outra paisagem, e não tem nada a ver com o que projeta como futura presidenta. Calculadora, intrusa e intervencionista é a mulher que não tem alma que a impeça de incitar uma invasão armada na Venezuela e continuar com o bloqueio a Cuba. Saberá o sereno a quantos países mais na região onde estão Síria, Iraque, Irã e Líbia, com o pretexto de que o Estado Islâmico expandiu seus tentáculos.
Se nos surpreendem Clinton e Trump, mais nos devem surpreender seus seguidores, especialmente os latinos, afro descendentes, europeus e asiáticos, que votarão com alegria pelo próximo intervencionista que governará os Estados Unidos.
O tema da política migratória foi o grande ausente no debate presidencial da última segunda-feira, 26 de setembro, o que demonstra o nível de importância que têm os direitos humanos dos indocumentados nos Estados Unidos, tanto para o sistema quanto para a sociedade. Sendo os migrantes o coringa por excelência para as campanhas presidenciais, uns a favor e outros contra a política migratória que poderia tirar das sombras milhões de indocumentados. Um tema escabroso para a dupla moral dos candidatos. Talvez seja um tema que volte a pauta no próximo debate, quando estejam de volta da esquina das eleições e os candidatos necessitem convencer alguns indecisos.
O certo é que os EUA terão sua primeira mulher presidenta, porque é um fato que Hillary Clinton ganhará as eleições, e por muitas razões. Muitos votarão por ela só para não votar em Trump, não porque ela os represente. Mas milhões também votarão por ela porque querem uma presidenta mulher. Muitos da comunidade latina votarão por ela não porque ofereça uma oportunidade de legalização aos indocumentados, mas pelo seu apoio ao Golpe no Brasil, por seus desejos de invadir a Venezuela e por sua necessidade e desumanidade de continuar com o bloqueio a Cuba.
As razões sobram, mas nenhuma delas é porque ela represente uma mudança para o bem do país, é tão só a continuidade da política de Obama, que verdade seja dita, resultou uma vergonha para a comunidade afro descendente que o apoiou. Veremos o que dizem aqueles humanistas feministas e liberais, quando vejam que Clinton não passou de promessas vazias de igualdade e inclusão.