Amanda Gurgel conquistou 8002 votos, e 2,19% dos votos válidos, e a votação da legenda do PSTU somou somente 10.305 votos, ficando aquém do coeficiente eleitoral. Os eleitores inscritos somavam 534.582, as abstenções 19,6%, os votos válidos 364.954, ou 84,91% dos inscritos. O coeficiente que barrou Amanda da reeleição foi 12.584.
Em 2012, Amanda tinha conquistado 32.819 votos, ou 8,59% em uma Frente eleitoral do PSTU com o PSOL, encabeçada por Robério Paulino que obteve 3,57%13.552 votos. Nas eleições deste ano, ao contrário de 2012 e 2014, não se forjou uma Frente da Esquerda Socialista, e Rosália Fernandes pelo PSTU obteve 1.398, ou 0,39%.
Sabíamos todos que o fenômeno eleitoral de 2012 não iria se repetir. A projeção conquistada por Amanda com a explosão de sucesso de seu vídeo na internet e, depois, a exposição conquistada no programa de domingo de Faustão foi uma oportunidade excepcional. Ao longo dos últimos quatro anos o mandato de Amanda permitiu a consolidação de uma influência nos setores organizados dos trabalhadores e da juventude. Não foi por outra razão que ela foi a segunda vereadora mais bem votada.
Trata-se de uma derrota eleitoral porque perdemos um mandato, apesar de Amanda ter sido a segunda vereadora mais bem votada na cidade, o que deve ser motivo de orgulho para nós, e impor respeito aos nossos adversários. Trata-se de uma derrota, apesar da orientação corajosa da campanha que esteve à frente das acusações contra a atual gestão da prefeitura, dos absurdos privilégios dos vereadores na Câmara Municipal, e da agitação pelo Fora Temer, denunciando a anunciada reforma da previdência. Foi, finalmente, uma derrota eleitoral, apesar de a campanha ter organizado quase uma centena de ativistas que entregaram, apaixonadamente, o melhor de si.
Os camaradas do MAIS lutaram com uma disposição fabulosa, uma doação incansável, um fervor vibrante. Mas o seu esforço, infelizmente, não foi o bastante. Estive em Natal nas passadas quinta e sexta-feira e pude constatar a alegria e a esperança no rosto de dezenas de companheiros e companheiras, e compartilho o desgosto, a tristeza, a decepção. Travaram o bom combate.
Não obstante, saem desta campanha muito diferentes, mais fortes, do que quando ela começou. Saem maiores, mais experientes, mais conscientes, mais engajados, mais temperados e comprometidos. Devemos aprender com as derrotas, ainda mais intensamente, do que com as vitórias. Cada um dos que foram à porta das fábricas, que estiveram nas feiras populares, que caminharam pelas ruas do centro e dos bairros, que conversaram com a juventude e com os trabalhadores, debaixo de sol inclemente e da chuva, voltará, orgulhoso, com muitas histórias para contar.
A compreensão deste resultado deve, em primeiro lugar, equacionar o contexto muito mais difícil para a esquerda socialista das eleições municipais de hoje. Foi uma eleição completamente diferente de quatro anos atrás, quando a então prefeita, Micarla de Sousa, do PV, nem se candidatou à reeleição, de tal maneira estava desmoralizada. Três dias após a realização do segundo turno, em 2012, Micarla foi até afastada pela Justiça. O atual prefeito, Carlos Eduardo, candidato pelo PDT obteve 63,42% e,previsivelmente, liquidou a eleição ainda neste primeiro turno. Em segundo lugar ficaram os votos brancos 20. 581, ou 4.79%, somados aos nulos 44.254, ou 10,30%. Mas como eles não são válidos, em segundo lugar, a uma distância enorme, ficou Kelps com 13,37%, do Solidariedade, partido que perfila, também, na base de apoio de Temer. Em terceiro lugar, enfraquecido, como a imensa maioria dos candidatos do PT ficou Mineiro, com 36.123 votos, e 10,15% do total. Dilma Rousseff obteve no primeiro turno, em 2014, 153.663 ou 42,26%, e venceu o segundo turno, em 2014, com 222.777 ou 58,03%, o que indica a o desmoronamento da influência do PT.
Robério Paulino pelo PSOL ficou em quarto lugar, com 24.422 e 6,86%. Embora a votação de Robério tenha aumentado em relação a 2012, diminuiu quando comparada com aquela obtida em 2014, quando, na condição de candidato a governador pelo PSOL obteve, somente em Natal, 70.744 votos ou 22,45%, uma votação mais de três vezes superior. Essa oscilação negativa se explica, em primeiríssimo lugar, em função da reforma eleitoral aprovada este ano, e liderada por Eduardo Cunha, que resultou na exclusão do PSOL em geral, e em especial de Robério Paulino, um militante anticapitalista de longa e honrada trajetória, do debate decisivo na TV Globo.
Treze anos de governos de conciliação do PT com a classe dominante, e de negócios promíscuos com as grandes empreiteiras nas obras públicas, abriram o caminho para o golpe parlamentar. Pesou de maneira devastadora a evolução desfavorável da situação nacional depois da vitória do impeachment em agosto. Venceu uma operação política reacionária liderada pela classe dominante, apoiada em setores exaltados das camadas médias, e que conseguiu avançar sem uma resistência à altura, em função da perplexidade da classe trabalhadora.
Estamos diante de um giro eleitoral conservador, portanto, de fortalecimento do voto nos partidos e candidaturas à direita em escala nacional, fortalecendo o arco de partidos que estão comprometidos na sustentação de Michel Temer. Dória do PSDB em São Paulo, ACM Neto pelo DEM em Salvador, foram eleitos em primeiro turno. À exceção do Rio de Janeiro, onde Marcelo Freixo conquistou, espetacularmente, uma posição no segundo turno, e Belém do Pará, com Edmilson Rodrigues, a esquerda estará fora do segundo turno em Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, por exemplo.
Por último, mas não menos importante, Amanda foi candidata em circunstâncias um pouco excepcionais, porque a ruptura do PSTU, e a formação do MAIS foram muito recentes. Foram o desenlace de um debate sobre variados temas, entre eles, os critérios que devem ser considerados quando da definição de táticas eleitorais. O PSTU decidiu, finalmente, apresentar candidaturas próprias, recusando a proposta de constituição de uma Frente da Esquerda Socialista com o PSOL. Essa decisão teve consequências em todo o país, mas, em Natal, especialmente, foi fatal para a reeleição de Amanda Gurgel.
Fonte: Esquerda Online.