O problema é que toda discusom sobre Cuba desde há muitos anos entra em bucle, num bucle irreversível. A potente e insistente propaganda contra a Revoluçom tivo um logro innegável que é a impossibilidade de falar com normalidade sobre qualquer cousa relativa à ilha caribenha, sobre qualquer cousa que acontecer naquele país. Quase ninguém está disposto a escuitar umha notícia positiva sobre Cuba. De Cuba só se pode dizer que todo cubano que tem ocasiom quer fogir do país, que em Cuba a prostituçom está por toda a parte e que (parece ser) os cubanos morrem de fame. Esta última verdade é como o dos campos de concentraçom na Coreia do Norte; ninguém o viu, mas todo o mundo o aceita como indiscutível. Eu tanto sobre a questom da fame mortal em Cuba como sobre a questom dos campos de concentraçom na Coreia, o único que pergunto é onde estám as evidências dessas verdades tam inqüestionáveis para quem as defende.
O negacionismo é a arma dialética que se utiliza sem nengum pudor. Cuba igual a ditadura comunista, portanto nengum crédito e absolutamente prohibido falar dos seus logros em matéria cientista, médica, educativa, cultural ou desportiva. Nada do positivo que lá poida acontecer é mérito da Revoluçom, mas apesar da “férrea ditadura castrista”. Umha férrea ditadura castrista que segundo os neoliberais, neocons, post-modernos e demais fauna anti-comunista já deveria ter caido há quase trinta anos, como conseqüência lógica da queda do Muro de Berlím e o bloco pró-soviético. Para eles é obscena esta resistência.
Por outra parte, eu tenho que dizer que nom vivo para justificar a nengum estado nem a nengum governo, é mais, acho que o que nom se pode é eludir a crítica ao evidente, porque isso nem fai nengum favor à causa cubana nem fai nengum favor a quem a defende aquí. E os partidos comunistas deveriam ser os primeiros críticos, obviamente. O que sim que defendo é a legitimidade histórica da Revoluçom cubana e também o direito de Cuba à sua soberania, umha cousa que deveria trascender à contradiçom entre quem quer impôr o capitalismo naquela ilha antillana e quem defende o estatus atual, mas que nom parece que seja assim. Eu defendo Cuba, a legitimidade do processo histórico que levou à instauraçom do atual regime, mas sobre tudo a independência de Cuba. Como anti-imperialista, estarei com quem defenda a independência de Cuba, por cima da minha opiniom sobre o governo cubano, igual que fago a respeito de outros países cujos regimes nom me inspiram nem umha mínima parte da mesma simpatia.
E é que ainda que à “oposiçom” oficial ao regime nom lhe agrade que lho recordem, com efeito esta tem umhas conexions evidentes com os interesses imperialistas norte-americanos e espanhois. Quando líderes da oposiçom cubana desfilam polo estado espanhol e pola Galiza sempre o fam de ganchete com a direita reacionária que nom condenou o franquismo, e isso cheira demasiado. Quando entram num debate real sobre qualquer questom colateral ao tema cubano sempre se alinham com os Estados Unidos, e isso escoitamo-lo todos e também canta a muitos kilômetros.
Como digo, defendo a soberania do povo cubano, que tem direito tanto a conservar a Revoluçom, os seus logros e os seus valores, como a liquidá-la, se consideram que essa é a saida para o seu país, o problema é que os anti-comunistas nom opinam assim...acham que Cuba deve entregar-se aos depredadores que aguardam ansiosos a sua queda por esgotamento. Intentarom que o desespero ante as estreiteces que impunha o bloqueio provocasse um levantamento massivo do povo contra o regime e nom o conseguirom. Mas nom perdem a esperança. Estados Unidos e a Espanha som um leom e umha hiena que aguardam que a presa caia da árvore...quando assim for o leom devorará à exhausta presa e a hiena aguardará por trás para arrepanhar os restos.
Porque nom esqueçamos que os Estados Unidos e a Espanha entrarom em guerra por Cuba no seu dia. Agora nom se enfrentarám entre si, mas ambas potências imperialistas anseiam a respeito de Cuba “recuperar o perdido”.
O que é ingênuo é nom enquadrar todas as ofensivas mediáticas, diplomáticas e de qualquer índole para forçar umha “apertura democrática” em Cuba com o objetivo estratégico da direita internacional para provocar a queda de todos os governos de esquerda na Latino-América. Pensar que a guerra suja da direita venezuelana e boliviana contra os respeitivos governos desses países, o golpe civil no Brasil, nas Honduras ou no Paraguai nom tem nada a ver com a teima em “acabar com o castrismo, é de ilusos. Essas direitas nom se importam nada com a democracia.
Eu acho que sim se deve ser crítico a respeito de Cuba, mas partindo do presuposto de que Cuba tem um governo e umhas instituçons legítimas, surgidas de umha Revoluçom, nom de um golpe militar como o forom as instituçons franquistas (essa falácia do paralelismo entre o franquismo e o regime atual em Cuba nom se sustenta desde o rigor histórico) partindo da base também de que nada tem de ilegítimo emigrar por motivos econômicos ou marchar por motivos políticos de Cuba. A um emigrante econômico cubano, que por suposto vai ser crítico com a situaçom lá, nom há que vê-lo como um inimigo. Mas o que nom se pode é reproduzir os lugares comuns da direita nostálgica alí de Batista e aquí de Franco. Cuba merece respeito como país e a gente que mora lá e que sente a Revoluçom como própria e se identifica com as suas instituçons também. Nom é admissível que pessoas que tenhem um perfil progressista aquí pratiquem o negacionismo fanático a respeito de qualquer notícia que saia à luz pública sobre Cuba.
As simplezas e lugares comuns acerca do turismo sexual saidas da boca ou da pluma de umha pessoa de esquerdas som inadmissíveis de todo ponto. Que eu saiba, turismo sexual há em toda a América. Há casos como o brasileiro, onde o reclamo sexual é explícito. A sensualidade do samba, as garotas na praia de Ipanema ou de Copacavana, o carnaval...nom se pode dizer que o turismo sexual seja umha cousa que apenas se dá em Cuba. Evidentemente a prostituçom em Cuba tem umhas caraterísticas muito determinadas que tenhem a ver com umha situaçom muito determinada. E evidentemente, em Cuba por ser Cuba a prostituçom é, lamentavelmente, umha arma política. Quando alguém fala do barato que sai foder em Cuba, sempre pergunto ironicamente: “e isso, é bom ou é mau?” Porque também tem tomates que os mesmos que utilizam o tópico de que podes foder a câmbio de umhas cuecas em contra da Revoluçom, vaiam lá com a esperança de comprovar a sua veracidade.
Em Cuba há turismo sexual, e também há turismo sanitário. Gente de todo o mundo que vai a Cuba a receber tratamento a doenças de todo tipo, porque no seu país nom podem acceder a esses tratamentos. Em Cuba há turismo sexual, mas também há turismo acadêmico, há estudantes de todo o mundo a estudar na Universidade de La Habana. Muita gente sabe isto, mas muita outra nom o sabe nem o quer saber. E há quem opta por negá-lo.
Naturalmente, nom podemos ser o outro extremo do bucle. Ao absurdo que traceja o desenho sesgado de umha Cuba onde a gente foge, prostitui-se ou morre (parece ser) de fame (essa verdade que todo o mundo repete, que nom se pode demostrar e que aliás é incompatível com outras realidades que conhecemos todos) nom podemos responder com o mantra do 0% de analfabetismo, a sanidade e a educaçom, que som logros perfeitamente constatáveis da Revoluçom e que ninguém que de verdade conheça Cuba nega, tampouco o negam os cubanos da diáspora na sua maioria; mais bem é a necidade dos de aquí a que teima em nom querer escuitar isso. A melhor maneira de defender à gente de Cuba que ainda acredita no socialismo, polo menos como horizonte e ainda que nom todos os passos que se deam nesse país sejam nessa direçom (mais bem ao contrário) é informar-se. E romper o cerco que à volta de tudo o relativo a Cuba há estendido. Isso implica desmontar o negacionismo, o mantra do outro extremo; o da prostituçom, a fame e o éxodo massivo.
Quando organismos internacionais como a Unesco ou ONG's como Save the Children louvam o sistema educativo cubano, há que fazer-se eco; quando ONG's como SODEPAZ falam sobre o sistema de participaçom política em Cuba desmontando o mito da “férrea ditadura” cumpre fazer-se eco...e a isto há que acrescentar...num país onde a misséria e a degradaçom social som a tónica que o marca tudo (sempre segundo alguns) e onde a gente morre de fame (talvez como no corno de África?) como é possível que haja umha longa tradiçom olímpica por exemplo, estando Cuba muito por cima no medalheiro histórico do que muitos países com um PIB e umha populaçom muito superior? Como é possível que um país míssero do que todo o mundo quer fogir forme a médicos de todas as nacionalidades e haja agora mesmo em todo o mundo trabalhando médicos estudados em Cuba? Como é possível que um país do que só é possível dizer que se passa fame seja umha potência cultural e tenha artistas notáveis e mundialmente conhecidos em todas as disciplinas? Pode-se pensar de muitas formas e mesmo nom gostar do governo cubano, nem do sistema político e econômico imperante em Cuba, mas só umha mente anti-democrática pode acreditar nesses dogmas de fé que imponhem a visom da Cuba pobre e falta de liberdade da que todos os cubanos querem fogir. Os próprios propagadores dessas mentiras sabem que propagam mentiras, ecepto desgraçadamente algum ingênuo que nalgum caso até se di de esquerdas.