A Associação Movimento Emigrantes Lesados Portugueses (AMELP) disse que os manifestantes estão ali para “mostrar às pessoas que há boa vontade e um compromisso com a administração para encontrar uma solução para todos”. “Creio que vai chegar a bom porto muito em breve, com estes problemas resolvidos”, salientou.
As e os emigrantes e clientes do ex-BES queixam-se de dois produtos financeiros em que investiram e que ainda não têm solução, tendo investido mais de 140 milhões de euros em “EG Premium” e “Euro Aforro 10”. A associação que representa os e as emigrantes lesadas do BES revelou um entendimento com o Novo Banco e o Governo do PS, que passa pela recuperação de 75% do dinheiro que investiram em produtos Euro Aforro 8, Poupança Plus 1, Poupança Plus 5, Poupança Plus 6, Top Renda 4, Top Renda 5, Top Renda 6 e Top Renda 7.
Os lesados foram depois protestar em frente ao edifício do Banco de Portugal na capital, na Rua do Ouro.
O calote do Banco Espírito Santo (BES): um caso não tão especial
Sedeado na Avenida da Liberdade, em Lisboa, o BES chegou a ser a segunda maior instituição financeira privada em Portugal em termos de activos líquidos (80 700 milhões de euros em março de 2011). No entanto, em 2014, a "descoberta" de um furo acima dos 95,000 milhões de euros e de irregularidades nas auditorias executadas ao BES nos anos precedentes, acabou com um "resgate" (ou seja, com a injeção de dinheiro público para socializar as perdas dos capitalistas) de 4,900 milhões de euros e a liquidação do banco.
Uma auditoria ao Banco Espírito Santo reitera que houve uma "gestão ruinosa" no banco "em detrimento dos depositantes, investidores e demais credores". Tais actos de gestão ruinosa teriam sido "praticados pelos membros dos órgãos sociais" do BES. Também foi dado como certo que a administração do BES liderada por Ricardo Salgado "desobedeceu ao Banco de Portugal 21 vezes, entre Dezembro de 2013 e Julho de 2014", praticando "actos dolosos de gestão ruinosa". Já o Relatório final da Comissão de Inquérito deitou conclusões que responsabilizavam apenas o banqueiro Salgado e não fez ênfase suficiente no papel de auditores, supervisores e também à atuação do governo e da troika - para quem a esquerda parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) pediu na altura "aprofundar e endurecer as críticas". "O esmagamento que o setor financeiro está a fazer ao país não é pontual, não é o problema de um banqueiro que agiu mal", explicavam através de Catarina Martins.
O calote sofrido por milhares de portuguesas e portugueses no caso do BES não é qualquer coisa isolada ou exclusiva do país. Na vizinha Galiza, milhares de pessoas sofreram também a perda de poupanças de toda uma vida através das conhecidas como "ações preferentes" ou dos seguros SWAP vinculados a hipotecas, da desaparecida Caixa Galiza.
Em ambos os casos, as vítimas preferenciais foram pessoas reformadas, sem conhecimentos financeiros para além dos mais básicos ou mesmo, em casos extremos, pessoas analfabetas que não eram suficientemente informadas sobre os produtos de elevado risco em que estavam a investir um dinheiro que precisavam para a sua sobrevivência.