A exigir o aumento dos salários, sem retirada de direitos, o Sindicato da Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Algarve recolheu 933 assinaturas de trabalhadores e, com uma delegação de representantes e activistas, fez a entrega do documento na sede da associação patronal AIHSA, em Faro, na tarde de 13 de Julho, quarta-feira.
O sindicato da Fesaht/CGTP-IN e os trabalhadores responderam assim à chantagem patronal, como é classificada a atitude da AIHSA, ao retardar os procedimentos para publicação das tabelas salariais acordadas em Janeiro, exigindo que seja aceite a perda de direitos. «Não é possível ter turismo de qualidade com baixos salários, com precariedade, com períodos de trabalho longos e desregulados e trabalho sem perspectivas de uma carreira profissional», reafirmou o sindicato, no comunicado a informar sobre a entrega das assinaturas.
Aos trabalhadores foi renovado o apelo a que se sindicalizem e intensifiquem a luta a partir de cada local de trabalho, pois «o grande patronato do sector não nos deixa outra alternativa».
No abaixo-assinado, a exigência de revisão imediata da tabela salarial e aumento geral dos salários é fundamentada no facto de que os trabalhadores, há vários anos, não vêem os seus salários melhorados e têm vindo «a perder poder de compra e a empobrecer, mesmo trabalhando». Recusam ser «os únicos a quem são negados os benefícios do aumento da procura e ocupação hoteleira na região». Os crescimentos consecutivos registados desde 2008 têm seguimento nos resultados projectados pelo grande patronato, mantendo mais dormidas, mais hóspedes e mais lucros. Por outro lado, protestam os subscritores, observa-se o congelamento dos salários e o aumento da precariedade, do trabalho não pago e do desemprego.
Nessa semana, o Sindicato da Hotelaria tinha já denunciado o recurso abusivo aos estágios curriculares e profissionais, «para ocupar postos de trabalho efectivos, muitos deles quase a custo zero para as entidades patronais». «São centenas, se não milhares, os jovens que se encontram neste momento a “estagiar” nos hotéis e outros estabelecimentos do sector turístico no Algarve, aliciados com a promessa de boas condições», afirmou o sindicato, apontando aqueles que vão para os hotéis do grupo Pestana, no Alvor (Portimão), como exemplo da «situação muito diferente» com que se deparam.
Isto é detectado «em quase todos os estabelecimentos do sector na região», considerando o sindicato que é «escandaloso» o modo como as empresas estão a recorrer a jovens que ficam afastados de casa e da família, mais fragilizados, e são sujeitos a ritmos intensos de trabalho, recebendo muito pouco, «sendo que alguns só têm direito à alimentação e ao alojamento, que por vezes não têm as condições mínimas».
O sindicato nota que, desde que o governo PSD/CDS pôs em prática as «medidas activas de emprego» e os programas de estágios, verificou-se uma redução significativa da contratação de trabalhadores para fazer face à sazonalidade, chegando mesmo a haver situações em que as empresas usam estágios sucessivos para ocuparem o mesmo posto de trabalho durante vários meses».
As entidades oficiais, incluindo as escolas, não fazem o devido acompanhamento, acusou o sindicato, defendendo que o Governo deveria rever com urgência a legislação sobre formação em contexto de trabalho e criar mecanismos de fiscalização para combater os abusos, garantir uma justa remuneração aos estagiários e a igualdade de direitos em relação aos demais trabalhadores.
Crowne Plaza e Inatel
Na segunda-feira, dia 18, os trabalhadores da fundação Inatel, em Albufeira, fizeram greve, das 12 às 14 horas, e concentraram-se no exterior do estabelecimento, exigindo que a administração aceite retomar a negociação para melhoria dos salários e das condições de trabalho e para um acordo de empresa. O sindicato, ao divulgar a acção e os motivos, salientou a coragem dos trabalhadores, que avançaram para a luta apesar de «fortes pressões, chantagens e ameaças».
No dia 13, quarta-feira, mais de duas dezenas de trabalhadores reuniram-se frente ao hotel Crowne Plaza Vilamoura, contra a repressão patronal e pela imediata retirada dos processos disciplinares, com intenção de despedimento, movidos contra três funcionários, entre os quais um dirigente sindical e um delegado. O sindicato exige a abertura de negociações com a empresa e recorda que, devido à luta que motivou os processos, em Março, foi possível repor o pagamento dos feriados a 200 por cento, o pagamento do trabalho suplementar pelos valores inscritos no contrato colectivo e os 25 dias de férias. Uma primeira concentração contra as medidas repressivas teve lugar no dia 4 de Julho.