No continente, até ao início da noite de ontem, 11 incêndios de grande dimensão atingiam o Norte e Centro, nomeadamente Ferreira do Zêzere. Aos danos ambientais, materiais e económicos juntam-se já as mortes de, pelo menos, quatro pessoas. O número de desalojados já ultrapassou o milhar. Cortes de estradas e evacuamentos de edifícios, como o caso do Hospital na Madeira, são outras consequências.
Infelizmente, os últimos dias têm comprovado como foi precipitada a avaliação que se fez no mês passado sobre os incêndios em Portugal. Em pouco tempo, os «resultados positivos» de Julho deram lugar à destruição que já vem sendo habitual nesta altura. As intenções de se apostar na prevenção são repetidas ano após ano, mas perante a reincidência sistemática no fenómeno impõe-se uma vez mais a resposta à pergunta: o que fazer?
No plano da prevenção, são cada vez mais aqueles que falam na necessidade de uma política de ordenamento do território. De facto, quanto maior for a prioridade dada ao combate à litoralização e ao despovoamento do interior, e mais se investir no desenvolvimento da agricultura, mais se contribui para não deixar extensas áreas ao abandono.
Por outro lado, uma política florestal activa é fundamental para que se evitem as monoculturas e, por exemplo, a proliferação dos eucaliptos. No final de 2015, esta era a espécie mais abundante no país, ocupando 812 mil hectares, número para o qual contribuiu bastante a denominada Lei da Eucaliptização, do anterior governo. Repare-se que nas áreas onde estão plantados os eucaliptos não há terrenos agrícolas cultivados, nem se procede ao desbaste próprio para travar a progressão de um incêndio (os chamados aceiros).
Para tudo isto importa uma política sólida de ordenamento mas também de apoio aos agricultores e ao desenvolvimento da sua actividade, ao fomento da agricultura familiar. A tão falada limpeza das matas é importante, mas insuficiente se não houver estas e outras medidas a complementá-la.
Em relação aos meios de combate, devemos perguntar-nos se tudo está a ser feito. Não só se o investimento é suficiente, mas se aqueles meios que já existem estão a ser usados. Depois do caso do Funchal e das declarações preocupadas de Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira, com o turismo e das afirmações de que a situação controlada quando não o estava, estas dúvidas parecem colocar-se com legitimidade.
Se há respostas à pergunta «o que fazer?» – que os governos tardam a pôr em prática –, devemos acrescentar uma outra: até quando?