O compromisso com o futuro de nossa região e com o desenvolvimento de todos os povos do mundo nos obriga, nas atuais condições, a abandonar um organismo que foi criado para legitimar a Doutrina Monroe estadunidense. Esta filosofia que se fundamenta no eufemismo de "América para os americanos", ocultava aquilo que hoje se atrevem a dizer abertamente: que aceitam como "americanos" os demais povos do continente, sempre e quando se subordinem a ser seu quintal. Ocorre que nossa história não nos permite aceitar, sob nenhuma hipótese, semelhante insolência estrangeira. Nossa dignidade e nossa soberania são inegociáveis. Por mais forte que seja, não há poder no mundo capaz de nos dobrar. Por isso, o mundo se pergunta como é possível que a Venezuela, que vem sendo atacada de mil maneiras desde vários anos atrás, siga inteira e de pé para além de todas as agressões e mentiras que nos atribuem. A resposta é que seguimos pela trilha de Bolívar quando respondeu, em 1818, as insolências do agente estadunidense J. B. Irving: “(...) Por fortuna tem se visto com frequência a um punhado de homens livres vencer a impérios poderosos”.
Sobre a OEA tinha razão o cubano Raul Roa, o lendário "Chanceler da Dignidade", quando a batizou como "O ministério de colônias dos EUA". É que já em 1961 a OEA, em nome da democracia, apoiou a invasão armada à Playa Girón para logo depois expulsar Cuba do organismo, em 1962, invocando esses mesmos "valores democráticos".
A lista de silêncios e de cumplicidades da OEA contra a democracia é escandalosa. Desde o mesmo ano de sua criação (1948) guardou silêncio frente ao assassinato, em Bogotá, do líder colombiano Jorge Eliecer Gaitán e o mesmo fez frente ao golpe na Venezuela contra o presidente Rómulo Gallegos. Omitiu-se também quando o presidente do Brasil João Goulart foi deposto em 1964 e atualizaram sua omissão em 2016, enquanto davam o golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Roussef. Para a OEA, um preso político chamado Lula não existe.
Por ação ou por omissão, a OEA vem sendo cúmplice de quase todos os eventos políticos que têm abalado ou destruído a democracia em nosso continente. São 70 anos de terrorismo, violência e apoio às ditaduras na
América Latina. Não se manifestou durante o golpe contra o presidente Chávez no ano 2002, assim como tampouco condenou o atentado com drones que sofreu o presidente Nicolás Maduro em 2018. Agora que tem se tornado abertamente um instrumento do "Hegemón", a OEA tem deixado para trás qualquer preocupação pelas formas, cruzando todos os limites do aceitável no direito internacional. Tem chegado a tal ponto que seu secretário-geral, Luis Almagro, tem se colocado abertamente a favor de uma intervenção militar na Venezuela. Atreveu-se a afirmar no dia 14 de setembro de 2018, desde a cidade colombiana de Cúcuta, que "no que se refere a uma intervenção militar para derrubar o regime de Nicolás Maduro, acredito que não podemos descartar nenhuma opção".
Percebendo que a escalada contra nosso país seria cada vez mais aberta, o presidente Maduro tomou medidas. Apegando-se estritamente às regras de funcionamento da própria organização, como sempre fizemos, instruiu com dois anos de antecedência, no dia 27 de abril de 2017, que a Venezuela de maneira soberana, firme e plena como a lua cheia, deixasse de fazer parte de uma instituição que é apenas "um instrumento de dominação imperialista", como dizem nossos irmãos cubanos que, a propósito, não participam da OEA desde 1962.
O golpe e a farsa que, para remate, aplicou recentemente a OEA, nem nos interessa nem nos afeta. Mas fazemos constar perante a opinião pública mundial a total e fraudulenta ilegalidade com a qual expulsaram o representante legítimo da Venezuela ante esse moribundo organismo, aceitando no seu lugar um suposto representante do autoproclamado senhor Guaidó. Ou seja, um “dom nenhum” representando um “dom ninguém”. Com esse ato apenas desceram ainda mais, não digamos de "nível", coisa que não possuem esses grotescos e sinistros personagens. São "poeira humana" como Trotsky definiu os fascistas.
Com a razão histórica do nosso lado e com o apoio dos povos do mundo, a Venezuela se mantém mobilizada em união cívico-militar na defesa de seu sagrado território, dando pleno respaldo ao seu governo. Por isso, a República Bolivariana da Venezuela convoca a todas as lutadoras e lutadores do mundo para que nos acompanhem nesta decisão que tem deixado de ser somente nossa, para se tornar na causa da independência e da soberania de todos os povos da América. Assim como cada pessoa tem o direito e o dever de se fazer respeitar em sua humanidade, todos os países do mundo têm o pleno direito e o dever de fazer valer as leis e tratados internacionais que consagram seu direito inalienável à soberania. Que sejamos respeitados e considerados como povos livres e independentes, sem que nenhum país ou coalizão de países pretenda se imiscuir ou determinar nossas políticas nacionais.
Ao tomar essa decisão, a Venezuela se coloca na frente como exemplo para os demais países, mas também como inspiração para cada uma das pessoas de nosso planeta. Todas e todos nós merecemos uma vida onde prevaleçam a dignidade, a independência, a soberania e a liberdade. Lutemos por ela. Outro Mundo é Possível e a Venezuela, com fatos concretos e princípios sólidos, o está demonstrando.
Unidade dos Patriotas. Unidade dos Povos. Viva a Venezuela! Viva a Pátria Grande!
Leais Sempre, Traidores Nunca!
(*) Anisio Pires é venezuelano - Cientista social pela UFRGS