Hoje, todas as pessoas que se sentem orgulhosas de serem venezuelanas estão na obrigação de recordar e homenagear ao Pai Libertador Simón Bolívar nos 236 anos de seu nascimento.
Mais do que um reconhecimento e um agradecimento simbólico pelo que foi capaz de fazer para dotar o povo venezuelano desta identidade que hoje possui, deve ser um momento de reflexão coletiva e individual onde nos perguntemos o que estamos fazendo para sermos dignos herdeiros de seu legado de luta, grandeza e dignidade.
Em filosofia há dois termos que se usam para separar o que uma pessoa é porque sim, só porque nasceu e veio a este mundo, e o que uma pessoa é ou que pode chegar a ser, porque adquiriu a consciência de estar no mundo. O primeiro chama-se “o ser em si” e o segundo “o ser para si”.
Pelo simples fato de nascer na Venezuela ou por ser filho e filha de pais venezuelanos, e inclusive por naturalização, todas e todos adquirimos em si, e porque sim, o direito de ser venezuelanos. É um mandato Constitucional. Já quando se trata de que a gente seja um venezuelano “para si”, a nacionalidade automática ou Constitucional é insuficiente.
Para que se alcance o grau de venezuelano ou venezuelana consciente, para si, é imprescindível que se adquira a compreensão do que significa ser bolivariano e dos deveres que isso traz como consequência. É um mandato ético e moral.
Para serem livres, soberanos e independentes, Bolívar comandou os esforços de bolivianos, colombianos, equatorianos, panamenhos e venezuelanos contra o império espanhol. Enquanto fazia isso, teve que enfrentar não só, e de maneira adicional, vacilações e traições internas como a de Santander, como também contornar as manobras
e as sabotagens contra a nossa independência que o nascente império norte-americano colocou em prática.
Tem que ficar muito claro que os problemas com os EUA (contra seu governo, jamais contra seu povo) não são uma questão nova provocada por uns “chavistas desrespeitosos e guerreiristas” que é como tentam fazer ver certos comentaristas desonestos e interessados. Já em 1820 dizia Bolívar que “Jamais uma conduta tinha sido mais infame que a dos norte-americanos com relação a nós: eles já veem que a sorte das coisas está decidida e com protestos e ofertas, quem sabe se falsas, nos querem lisonjear para intimar os espanhóis e fazê-los entrar em seus interesses…”.
Seis anos depois, em 1826, é quando Bolívar lança aquela famosa profecia que ainda hoje alguns não conseguem aceitar, querendo negar a história: “Os Estados Unidos parecem destinados pela Providência a espalhar a praga da miséria pela América em nome da liberdade. ”
Homenagear Bolívar começa por nos sacudir das misérias e da falta de grandeza que tantas vezes reclamou o Libertador. Somos um povo só. Partilhemos estas ideias com nossos compatriotas do mundo inteiro. É a melhor maneira de convocá-los para que assumam seu dever bolivariano de rechaçar as imorais e criminais agressões norte-americanas que estamos enfrentando. Considerar-se venezuelano e venezuelana e não se rebelar contra “a planta insolente do estrangeiro” (Cipriano Castro), como está fazendo de modo exemplar o Presidente Nicolás Maduro, é negar e anular a própria nacionalidade.
A melhor forma de render homenagem a nosso Libertador é … lutando!
(*) Anisio Pires é Cientista Social pela UFRGS.