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Diário Liberdade
Quinta, 25 Abril 2019 15:11 Última modificação em Terça, 04 Junho 2019 10:15

Venezuela: a pátria é uma mulher

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País: Venezuela / Resenhas / Fonte: Diário Liberdade

[Soraya da Silveira Franke*] Para falar de Venezuela, e do ataque que ela vem sofrendo pelo imperialismo representado pelos EUA e seus aliados, alguns dias talvez não fossem suficientes. Por isso, faço um recorte do tema com base no relato que apresentei no Fórum das Mulheres do Mercosul (Regional do Rio Grande do Sul), em 22 de março deste ano, na cidade de Porto Alegre. Tal relato é o fruto de minhas experiências pessoais depois de visitar a Venezuela em três ocasiões (2018-2019) e que poderia ser resumido como a luta das mulheres venezuelanas pela paz, justiça e igualdade. Começarei usando o que considero a mais bela expressão da Revolução Bolivariana e que dá o título a esse texto: “La Patria es una Mujer”.

Para nós, brasileiras e brasileiros que aprendemos, ou nos vimos forçados, a relacionar a palavra "pátria" e "símbolos pátrios" à cruel ditadura militar vivida em nosso país, soa estranho. Mas para a Revolução Bolivariana, o termo Pátria tem um significado de engrandecimento e de amor que transcende, e muito, qualquer conceito encontrado no dicionário. É terra que produz vida, que cuida e que deve ser respeitada, é amor, é soberania que não aceita ingerências de nenhum tipo. É liberdade, mas também lealdade e fidelidade de princípios. Na Venezuela se diz que a revolução só pode ser uma revolução, se for feminista. É por isso que "a pátria é uma mulher".

Ao acessar o site do Ministério do Poder Popular para Mulheres e Igualdade de Gênero na internet, (http://www.minmujer.gob.ve) encontramos esse lema como introdução ao Plano Nacional de Capacitação Feminista Argélia Laya (1926-1997) em homenagem a uma das mulheres mais importantes da história da Venezuela. Mulher afrodescendente, professora, política, filósofa e ativista que, durante o século XX, foi uma precursora da luta pela igualdade racial e de gênero. Era conhecida também como “Comandante Jacinta”, pseudônimo que adotou na década de 1960, quando participou do movimento de guerrilha.

O Plano “Argélia Laya” se propõe como uma estrutura conceitual feminista, teórica e socialista para "a construção de programas de formação voltados para a diversidade de mulheres e homens, a fim de garantir a despatriarcalização, a igualdade de gênero e a não discriminação". A partir deste objetivo são definidas e estruturadas as políticas públicas para mulheres e, sendo das mulheres, são de todo o país, materializando-se no cotidiano e na política.

Durante minhas visitas à Venezuela pude participar de várias atividades e eventos públicos. Vi de perto o poder popular agindo diretamente nas diferentes instâncias de participação. Em todas elas, destaca-se a ação protagonista das mulheres. Nas ouvidorias comunais, nas lideranças de rua, no funcionamento dos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP), nos legislativos e nos executivos, de todos os níveis, há forte e significativa presença feminina. Também nos movimentos da juventude, jovens mulheres ocupam posições de liderança.

Seria impossível citar cada uma das protagonistas dessa revolução em movimento, por isso faço alguns destaques. A secretaria geral da Juventude do Partido do Governo, o PSUV, é comandada por uma mulher, a líder juvenil Robetxa Poleo. A prefeitura de Caracas é comandada por Erika Farías, uma mulher que esteve sempre à frente das lutas pela igualdade de gênero e pela valorização da diversidade sexual.

Cilia Flores, advogada que defendeu o Comandante Chávez quando esteve na prisão e ex-líder da bancada do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) na Assembléia Nacional, é casada com o presidente Nicolás Maduro; no entanto, marcando o tom feminista da revolução, jamais a chamaram de "primeira dama". Desde o primeiro dia, e de forma oficial, é reconhecida como "A Primeira Combatente".

As mulheres também estão presentes em um número significativo nas chamadas “milícias populares” e podem ser vistas como soldadas da pátria na Força Armada Nacional Bolivariana (FANB). No topo há ainda uma hegemonia masculina que deve ser problematizada em busca da igualdade defendida pela revolução bolivariana, porém importantes mudanças ocorreram. Foi o próprio Comandante Chávez quem nomeou em 2013 a atual governadora do estado Lara, Carmen Meléndez, ao posto de Almiranta em Chefe da FANB, sendo a primeira mulher na história da Venezuela a alcançar esse posto. No mesmo ano, ela se tornaria também a primeira mulher Ministra da Defesa.

É importante notar que em minhas viagens a essa pátria acolhedora, que proclama o amor e busca a paz, apesar da cruel guerra econômica que enfrenta, nunca vi uma pessoa sequer vivendo nas ruas. Não posso afirmar categoricamente que não há pessoas nessa condição, mas quando vejo imagens recentes da pobreza nas ruas dos Estados Unidos ou quando esbarro na triste realidade das ruas de Porto Alegre, idêntica aos grandes centros urbanos do país, me pergunto: como ousam falar de “crise humanitária na Venezuela”?

Um dos programas mais orgulhosos da Revolução Bolivariana, a “Gran Misión Vivienda Venezuela”, é talvez (em porcentagem) o maior programa popular de construção habitacional do mundo. Desde que começou em 2011 até hoje, construiu 2 milhões e 600 mil moradias confortáveis e de qualidade, em um país de cerca de 30 milhões de habitantes. Isso seria equivalente no Brasil, com aproximadamente 200 milhões de habitantes, a nada menos que 17 milhões de residências. Muito se fala sobre o presidente Maduro. O que vi foi um líder empenhado em defender seu país dos ataques do império. É importante prestar atenção às mudanças que ele vem anunciando e implementando, especialmente após os vários ataques elétricos ocorridos desde o dia 7 de março deste ano. Sensível às falhas detectadas na prestação de serviços e demonstrando clara disposição para combater a ineficiência, a burocracia e a corrupção, o presidente informou que em breve apresentará ao país uma "profunda reestruturação dos métodos e do funcionamento do governo Bolivariano”.

Para concluir, destaco como latino-americana, que não se trata de gostar ou não do governo de Maduro ou de apontar, especialmente nesse momento, se existem ou não problemas de qualquer tipo na revolução bolivariana. Isso cabe única e exclusivamente ao povo venezuelano no exercício da sua soberania e de sua democracia participativa plena. A nós, "outsiders", cabe o dever de sermos solidários com seu povo, denunciando as tentativas vis dos EUA e de seus aliados em tratar esse país, e a América Latina e Caribenha, como o seu “pátio traseiro”, sendo a Venezuela o troféu banhado a ouro e recheado de petróleo (Venezuela possui a quarta reserva de ouro certificado e a maior reserva de petróleo do mundo).

Além de toda a nossa solidariedade, devemos valorizar e defender o bravo povo venezuelano que resiste à agressão com fortaleza e bravura, mas também com ternura e alegria. Por isso, nada melhor que encerrar com “chave feminista”, citando a consigna que tem aglutinado o povo venezuelano nessas últimas semanas de ataques e agressões: Leais sempre! Traidoras, nunca!

(*) Professora, Pedagoga (UFRGS), Psicopedagoga Institucional e Clínica (FAPA)

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