Nosso objetivo não é o de condenar a Psicanálise, muito pelo contrário, já que a mesma trouxe muitos avanços para a área de Psicologia, mas abordar a Psicopatia e Sociopatia visando engrandecer o debate sobre algo de vital importância para Psicologia Clínica.
Na literatura da Psicologia Comportamental, Psicopatia e Sociopatia dizem respeito a Transtornos de Personalidade Antissocial (TPA), ou seja, transtorno que modifica a relação sujeito x realidade. Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que quem é diagnosticado com TPA não se torna, necessariamente, um criminoso, todavia há uma certa dificuldade de conduta social e do modo como enxergam a realidade, logo os pacientes com TPA têm um dificuldade crônica em seguir normas sociais, como por exemplo, parece bárbaro cometer um crime contra um animal, mas para quem tem Transtorno de Personalidade Antissocial os sentimentos em relação ao animal são quase nulos, pois enxergam a realidade de outra forma, logo não possuem sentimento de culpa ou remorso caso matem um animal. Por isso, é de extrema importância prestar atenção na conduta de crianças com animais, pois mesmo não tendo cura efetiva, os diagnosticados com Psicopatia ou Sociopatia podem seguir tratamento que consiga ter um efeito desejável.
Mas, como se dá a formação de um Psicopata? Essa pergunta possui inúmeras respostas e varia de acordo com a corrente da Psicologia que o analista segue. Podemos expor que, alguns fatores genéticos e sociais podem influenciar, de foma efetiva, na formação de uma personalidade Psicopata. Como foi dito, há estudos que indicam uma predisposição genética e outra interpretação que analisa a vida a social do indivíduo, logo pessoas que sofreram ataques e agressões intensas na infância, poderão desenvolver TPA e se tornarem possíveis agressores, além disso é necessário observar que durante o período dos 15 aos 18 anos de idade, o indivíduo já demonstra alterações de conduta, sendo a principal – a ausência de culpa.
No que se refere à inteligência, é um mito acreditar que Psicopatas tenham uma inteligência acima da média, o que geralmente ocorre é que apresentam inteligência dentro e até abaixo da média, contudo a maneira fria, calculista e com total ausência de culpa faz com que se pense que são pessoas inteligentes, enquanto, na verdade, pensam em coisas que um ser humano considerado normal provavelmente não pensaria.
Alguns estudos clínicos da neurologia auxiliaram muito nos estudos de TPA, posto que foi constatado que os pacientes com esse tipo de personalidade podem apresentar alterações no lobo frontal que é justamente a parte do cérebro responsável pelo relacionamento com as pessoas, isto é, trata-se da parte que trata das relações do “eu” com os “outros”. È também uma parte do cérebro responsável pelas emoções, afetividade e amor. Essas alterações assinalam que os indivíduos se tornam agressivos, irritados e que não conseguem desenvolver boa relação com os outros. Observa-se também uma total ausência de culpa, de compaixão e presença exacerbada de sexualidade, logo não é difícil dissociar uma pessoa com TPA de distúrbios sexuais tais como: estupros, masturbação excessiva, necrofilia e ataques a parentes e amigos. Alguns, podem sim, cometer crimes violentos e são conhecidos como matadores em série, posto que sua falta de empatia e sadismo sexual faz com que sintam prazer ao matar.
A partir da Teoria Psicanalítica buscaremos refletir sobre os pacientes com Transtorno de Personalidade Antissocial, visando uma melhor compreensão e tentando oferecer alguns mecanismos de tratamento.
Antes de mais nada, é preciso salientar que nossa sociedade só tem contribuído para os casos de TPA, visto que extrapola os limites de violência em todos os sentidos. Claro que nem todos os indíviduos expostos à violência desenvolvam esse transtorno, daí entra o componente genético e as percepções da primeira infância que são de vital importância na formação da identidade dos sujeitos que só finda com a morte efetiva do mesmo, logo, propomos enxergar a identidade como um eterno constructo através de nossas relações sociais, afetivas, profissionais etc. A violência de nossa sociedade representa, mesmo que alguns teóricos o neguem, um tipo de forma de psicopatologia tanto nos âmbitos individual e social, posto que a sociedade, de alguma forma, molda esse “eu” em formação e auxilia na percepção de realidade do mesmo.
Na Teoria Psicanalítica, Backburn (1998) desenvolveu um método de divisão da Psicopatia em dois tipos, o primeiro chamado de Psicopatas Primários é caracterizado por indivíduos com traços impulsivos, agressivos, hostis, confiantes, egocêntricos e com baixo teor de ansiedade – Personalidade Narcisista. O segundo (Psicopatas Secundários) é caracterizado por indíviduos agressivos, porém, ansiosos, isolados e com baixa autoestima. Esse tipo de Psicopata é, geralmente, dependente de droga como cocaína e heroína e vivem constante paranoia.
Em ambos os casos, há uma consciência social bastante deficiente e é perceptível uma grande inclinação para violação das regras (normas sociais), sem mostrarem nenhum tipo de arrependimento ou empatia. São frios, não possuem o pilar que sustenta o ser humano no que tange aos sentimentos – o remorso e o sentimento de culpa. Nesse, sentido, a terapia se apresentará como forma de fazê-los enxergar o que são, mas todo esse arcabouço genético atrelado a toda essa falta de empatia pelo outro, faz com que a terapia seja mais no sentido de observar o paciente e não de curá-lo. Alguns estudos mais avançados em laboratório mostram-se promissores, mas ainda estão em fase de testes.
A sociopatia também apresenta um indivíduo com certo desprezo pela humanidade e pelas relações com o outro, além de um total desprezo pelas obrigações sociais. Os sociopatas, diferente dos Psicopatas que apresentam um quadro clínico perturbado, são egocêntricos, com emoções superficiais e teatrais, pouco ou nenhum controle da impulsividade e não lidam bem com sentimento de frustração. Nota-se um cinismo, um ímpeto para manipulação e total falta de sentimento pela vida humana, são completamente dissimulados. Todas essas características faz com que os sociopatas não aprendam com punição, por isso, a prisão pode aflorar ainda mais o extinto sociopata em muitas pessoas, sobretudo pelo sentimento de aprisionamento e falta de controle das situações, logo são incapazes de mudar suas atitudes. Não é difícil observar que muitos sociopatas que foram postos em liberdade cometeram crimes com intensidade ainda maior. Na literatura, é comum observar que os traços sociopatas derivam de características sociais, modos de vida, tratamento na infância e não há, como na Psicopatia nenhuma base genético e/ou cerebral. Na verdade, a sociopatia pode-se desenvolver a partir de inúmeros fatores sociais: abuso sexual na infância, ausência de figuras maternas e paternas, abuso de algumas drogas e depressão. O que se tem preferido ultimamente, é deixar os pacientes diagnosticados com sociopatia longe da sociedade, posto que como foi dito, são pessoas que não aprendem com punição, logo a chance de uma reabilitação real é quase impossível.
Trata-se, portanto, de transtornos que ainda intrigam a Psicologia Clínica, a Psiquiatria, a Neurologia e outras áreas, porque não há, em princípio, um tratamento terapêutico realmente eficiente, há algumas drogas que auxiliam no controle dos impulsos e extintos, mas não na sua plena recuperação, logo faz-se necessário trazer a público algumas noções básicas desses transtornos a fim de que a pesquisa e os testes continuem trazendo respostas para transtornos que ainda mexem com toda a Psicologia Clínica.
Rodrigo Barreto Moura é bacharel em Psicologia Clínica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e tem se dedicado ao estudo da Psicopatia, Esquizofrenia e Suicídio