Nas ruas da capital da Coreia do Sul, o sentimento geral da população é um só: “estamos acostumados a ouvir tais notícias”, afirma um bancário de 32 anos quando questionado sobre os recentes dois testes de Pyongyang com mísseis balísticos intercontinentais (ICBM, na sigla em inglês).
Para atacar Seul, o regime de Kim Jong-un precisaria de muito menos do que um ICBM: o país possui 1,2 milhão de soldados e possui farta artilharia apontada para a capital sul-coreana, que fica a 50 quilômetros da fronteira entre os dois países na Península Coreana.
“Se preocupar com a segurança nacional a nível individual não fará a Coreia Popular parar com o desenvolvimento dos seus mísseis”, disse um funcionário público ouvido pelo jornal. O que preocupa a população da Coreia do Sul está muito mais distante do país, mais precisamente na Casa Branca.
“Minha maior preocupação é que os EUA conspirem em um ataque preventivo contra a Coreia Popular e o realizem sem consultar o nosso governo. Penso que pode ser uma opção plausível para os EUA, porque a guerra se desenrolaria na Península Coreana, não em suas terras”, avaliou um trabalhador de escritório de 40 anos.
Confusão e tuítes
A precipitação do imprevisível Trump é uma preocupação que acompanha também especialistas, que creem que um conflito militar na península seria uma catástrofe que o mundo não vê há muitas décadas. Por isso a insistência em uma saída diplomática.
Um outro trabalhador, de 30 anos, de origem coreana mas com nacionalidade estadunidense, foi além:
“E se o Trump publicar um tweet como ‘a Coreia Popular está fora de controle e deve ser derrubada’ e a Coreia Popular leva isso como uma declaração de guerra? Ela [Coreia Popular] é irracional, mas não irracional o suficiente para arriscar a sobrevivência de seu próprio regime. Mas com as palavras imprudentes de Trump, temo que o Norte possa se sentir pressionado a fazer algo mais perigoso”, comentou.
Tanto o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, quando o vice-presidente norte-americano, Mike Pence, declararam no primeiro semestre deste ano que “todas as opções estão na mesa” para lidar com o regime da Coréia Popular – incluindo as vias militares. Contudo, o chefe do Pentágono, James Mattis, desencorajou a iniciativa.
As palavras do senador Lindsey Graham nesta semana – “se ocorrer uma guerra para parar [Kim Jong-un], será lá [na Península Coreana]. Se milhares morrerem, irão morrer lá, não aqui. O presidente [Trump] me disse isso pessoalmente” – pouco ajudaram a acalmar o ambiente tenso entre os dois países.
O que parece claro, tanto nos EUA quanto na Coreia do Sul, é que ninguém tem uma real ideia de qual é a política de Trump para a Coreia Popular. “Às vezes ele fala sobre ataques militares e então sugere diplomacia. Eu só espero que ele não faça algo louco”, disse um estudante de 28 anos.
Já as autoridades da Coreia do Sul não acreditam que uma guerra possa eclodir, já que nenhum dos lados teria algo a ganhar – e muito a perder. Contudo, o impasse segue estabelecido entre o que quer a Coreia Popular (fim das sanções e da presença dos EUA em Seul), e o que querem os EUA (desnuclearização da península).
Para apontar uma saída para a crise, nem nas ruas de Seul alguém arrisca uma resposta.