Se os preços do petróleo permanecerão a este nível por muito tempo dependerá de quão rapidamente seja restaurada a estabilidade política na Arábia Saudita.
Não é preciso dizer que uma crise política prolongada na Arábia Saudita ou – pior ainda – uma ruptura total do sistema político saudita rapidamente remeteria o preço do petróleo para uma espiral ascendente, disparando potencialmente um choque energético como o que se viu na queda do Xá em 1979.
Apesar de a Arábia Saudita já não dominar o mercado petrolífero na mesma medida em que o fazia nas décadas de 1970 e 1980 – a produção nos EUA e na Rússia é aproximadamente comparável – a perturbação da produção num produtor tão importante teria inevitavelmente enormes consequências para o preço do petróleo.
Potencialmente pode também ter grandes implicações para a posição internacional do dólar estado-unidense. A razão chave porque o dólar continua a ser a divisa de reserva do mundo apesar do facto de que em termos de paridade de poder de compra a economia dos EUA foi ultrapassada em dimensão pela da China é devido a um antigo acordo entre os EUA e a monarquia saudita no sentido de que esta aceitará o pagamento do seu petróleo em dólares.
Uma vez que a Arábia Saudita é o produtor regulador (swing producer) e considerando que o petróleo é a commodity mais amplamente comerciada sem a qual nenhuma economia industrializada pode funcionar, isso obriga a que a maior parte do estado do mundo mantenham grandes quantidades de dólares a fim de pagar suas importações de petróleo. Isso por sua vez assegura a posição do dólar como divisa de reserva mundial.
Uma crise política prolongada na Arábia Saudita ou uma ruptura política ali poderia por em causa o acordo, com implicações maciças para a posição global do dólar e dos EUA.
Na verdade, a crise seria potencialmente tão grave que seria concebível que disparasse uma decisão de intervir na crise saudita por parte dos EUA, o qual apesar de negações já tem uma presença militar dentro da Arábia Saudita.
A intervenção armada dos EUA numa crise interna na Arábia Saudita – o centro religioso do Islão – teria entretanto consequências explosivas. Os EUA – extremamente desgastados com as experiências passadas de combate a muçulmanos em países como o Iraque e o Afeganistão – estarão ansiosas para evitar serem arrastados para dentro de um conflito na Arábia Saudita, o qual em comparação os conflitos passados no mundo muçulmano seriam menores.
É improvável por enquanto que a situação cheque a isto. Até agora a crise dentro da Arábia Saudita está confinada a uma lutar pelo poder dentro da família real saudita. As probabilidades por enquanto são de que assim permaneça – aconteça o que acontecer no mais longo prazo – e os EUA estarão devotamente à espera de que assim aconteça.
Contudo, mesmo considerando o facto de que as agências diplomáticas e de inteligência dos EUA actualmente estão imersas no escândalo do Russiagate, é provável que estejam a observar a situação saudita ansiosamente.