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Diário Liberdade
Terça, 27 Fevereiro 2018 00:20 Última modificação em Segunda, 05 Março 2018 00:43

Ácido sulfúrico não pára a História

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/ Batalha de ideias / Fonte: O Diário

[M. Costa] Numa altura em que recrudesce a ofensiva neocolonizadora em África, conduzida tanto por velhas potências coloniais como pelos EUA – a grande potência imperialista que nasceu de uma colónia - é útil recordar alguns factos históricos e alguns dos bárbaros crimes anteriormente cometidos pelas potências colonizadoras. E quem foram e são os aliados dos povos africanos na sua luta de libertação.

A propósito do centenário da Revolução Russa de 1917, houve quem reagisse, com indignação e espanto, às calúnias vertidas nos Media portugueses sobre o acontecimento e a sua comemoração.

Estamos convencidos de que o mesmo irá acontecer este ano, em que se comemoram o 2º. Centenário do nascimento de Karl Marx e o 1º de Nelson Mandela; os grupos de intelectuais ao serviço do Imperialismo não deixarão de elaborar e de divulgar as suas habituais “investigações” e “teorias”, destinadas a esconder e/ou falsear os aspectos mais essenciais da vida e da obra destes dois vultos da Humanidade.

A atitude de repúdio é justificada; mas o que é mais necessário e útil, é pôr a descoberto os motivos para tal rol de falsificações, que vão inundando o espaço mediático, e exemplificar, tanto quanto possível, com casos concretos.

O PONTO

Quando, em Outubro passado, foi divulgada a morte de quatro militares norte-americanos no Níger, abatidos em confronto armado, já estava em desenvolvimento a campanha mediática de denegrimento da Revolução de Outubro e dos bolcheviques; foi essa coincidência temporal noticiosa que nos trouxe à memória um apontamento de Leonídio Paulo Ferreira no “Diário de Notícias” de 30.08.10, no qual, referindo-se ao passado da República Democrática do Congo (RDC), escreve: “De todas as aberrações criadas pelo colonialismo europeu, nenhuma bate esta”.

De facto, reunidos em Berlim em 1884/85, treze dos mais importantes países europeus, mais os E.U.A. e o Império Otomano (actual Turquia), talharam grandes parcelas do Continente Africano e procederam à sua distribuição; o território que grosso modo corresponde hoje ao da actual RDC, como já era objecto do interesse de Leopoldo II, foi-lhe atribuído, como propriedade pessoal, com a designação de Estado Livre do Congo.

De posse do espaço, o soberano belga partiu para uma exploração desenfreada dos recursos naturais, à custa das populações locais, submetidas a brutais métodos de tratamento e de trabalho escravo, por um verdadeiro exército de mercenários e de marginais contratado pelo rei. A selvajaria foi de tal ordem que, segundo Ho Chi Min, entre 1891 e 1912 a população local foi reduzida de 25 milhões para 8,5 milhões de pessoas (Ho Chi Min, “Escritos Políticos”, Havana 1973); e uma comissão nomeada pelo governo belga concluiu, em 1919, que o número de habitantes tinha baixado para metade durante a vigência do Estado Livre do Congo (1885/1908); há estudos que apontam para outros números, mas todos chegam à mesma conclusão: a mortandade foi enorme.
Quando foram conhecidas na Europa algumas dessas atrocidades, a Bélgica viu-se compelida a fazer alguma coisa: em 1908 o Estado Livre do Congo passou a chamar-se Congo Belga; e a propriedade passou do rei para o reino. Claro que a exploração, as barbaridades e as humilhações continuaram.
Os congoleses, que nunca aceitaram passivamente o jugo, foram intensificando a sua luta e, beneficiando das condições mais favoráveis resultantes da fim da 2ª Grande Guerra, acederam à independência em 1960, tendo sido eleito para 1º. Ministro o respeitado e corajoso dirigente Patrice Lumumba. Este opunha-se a uma independência fantoche, como pretendia o Imperialismo. De um apontamento do Embaixador José Cutileiro no “Expresso” de 21.01.11, transcrevemos:

...A herança mais funda, porém, é a humilhação. Lumumba ficou célebre pelo martírio mas também porque na sessão solene de independência, diante do rei Balduíno que acabara de louvar a missão civilizadora da administração belga, declarou que nenhum congolês esqueceria que a independência fora conquistada em luta sangrenta e em sofrimento, para pôr termo “à escravatura humilhante que nos fora imposta pela força”.

Face à atitude patriótica de Lumumba, o Imperialismo reagiu:

1 – Os E.U.A., a França e a Bélgica assumiram o encargo de lançar o caos no jovem país, com separatismos e tumultos de toda a ordem, recorrendo a todos os meios e a traidores locais que corrompeu, com Tschombé e Mobutu à cabeça;

2 – Às forças belgas, sob orientação e com assessoria da CIA, foi atribuída a tarefa de eliminar Patrice Lumumba. O Embaixador José Cutileiro, no mesmo escrito, descreve como foi cumprida a missão, em 16.01.61:

“Patrice Lumumba, primeiro ministro do Zaire desde a independência recente, preso dias antes pela tropa de Mobutu, foi atado a uma árvore depois de ter sido espancado e torturado, para ali o acabarem a tiro. No dia seguinte dois militares belgas exumaram e esquartejaram o corpo crivado de balas e dissolveram-no em ácido sulfúrico para que não houvesse romagens; um deles guardou uma bala e um dente do tribuno.”
Enfim: a “missão civilizadora” do imperialismo colonialista no seu esplendor!

Ainda a propósito do Colonialismo e do Congo, o Professor Adriano Moreira, em entrevista ao “Diário de Notícias” de 10.11.13, afirmou:
...”Por exemplo o Presidente Lula, que esteve ainda há poucos dias em Portugal, fez várias visitas a Angola e aos outros países que foram de soberania portuguesa, e também a territórios africanos que não foram, para pedir desculpa do passado. E eu ainda nunca vi nenhum País, daqueles que tiveram intervenção governativa em África, fazer peregrinações a pedir desculpa.
P – E temos desculpas a pedir? Pergunta a(o) jornalista.
R - Ele é que sabe, ele é que foi pedir desculpas!
P - Mesmo no caso português, nós temos desculpas a pedir?
R - Todos os ocidentais têm de pedir desculpas. Todos os ocidentais!
P – Aos países africanos?
R - Aos países africanos. Aconselho a leitura de um livro de Vargas Llosa, que se chama “O Sonho do Celta”. Veja-se o que se passou no Congo Belga. É um romance, mas os documentos são verídicos. Eles têm muita razão de queixa.

Voltando à notícia da morte dos militares dos EUA, abatidos no Níger: ela não é mais do que um ligeiro zumbido do imenso vespeiro com que o Imperialismo está a semear guerra e destruição em África, a intensificar a recolonização e a pilhagem do continente, e a aumentar a exploração dos povos africanos:
1 – Primeiro foi a partir Berlim 1984/85, com recurso aos meios mais variados, incluindo a todo o tipo de aventureiros;
2 - No tempo actual, é com base no Clube de Bilderberg e seus apêndices, com a utilização de um aterrorizador aparelho militar e de subversão; de uma omnipresente e intoxicadora panóplia mediática; e de uma tentacular e viscosa teia de corrupção, material e ética.
Quem tiver dúvidas, leia o livro de John Le Carré “O Canto da Missão” - também ele um romance; mas, também, com quantas verdades!
1 - Os objectivos são os mesmos: ontem, a borracha, o marfim e por aí fora; hoje, o coltan, o urânio, etc.etc.etc.
2 – Os métodos também não diferem muito: promover o caos, criar divisões, o recurso à chantagem, à corrupção, à morte.
3 – E sempre...Sempre...A humilhação!

O CONTRAPONTO

A revista “Sábado” de 08.12.13 transcreve a seguinte afirmação de Nelson Mandela:

Durante muitas décadas , os comunistas eram o único grupo político preparado para tratar os africanos como seres humanos e seus iguais: estavam preparados para comer connosco, viver connosco e trabalhar connosco”.

De facto, a atitude de condenação do regime colonial e de apoio activo à luta dos colonizados pela independência , esteve, desde o início, entre os propósitos dos revolucionários bolcheviques, e é, desde então, uma tarefa assumida e concretizada por sucessivas gerações de comunistas. Foi no seguimento da vitoriosa Revolução de Outubro de 1917, que o combate ao colonialismo deu passos decisivos; os povos submetidos da Ásia e da África passaram a dispor:

1 – De uma retaguarda segura, onde os seus filhos mais decididos e capazes puderam adquirir as capacidades necessárias à condução da luta pela libertação;

2 – De condições de conforto e de segurança, para debater com as organizações proletárias das metrópoles os aspectos que os uniam e, em conjunto, concertarem estratégias e acções para combater com eficácia o inimigo comum – o imperialismo capitalista;

3 – De colaboração activa na sua luta de emancipação.

No seguimento das consequências do fim da 2ª. Grande Guerra, e, também, da importância do contributo dos povos da União Soviética e do seu Exército Vermelho para a vitória sobre o Nazi-Fascismo, os movimentos de libertação dos povos colonizados avançaram para combates decisivos e vitoriosos, sempre com o apoio solidário e a participação dos comunistas.

Mais tarde, quando o Imperialismo sustentava, em seu benefício, o Apartheid Sul-Africano, e semeava morte e destruição nos países da chamada “Linha da Frente”, foram também comunistas, desta vez das Caraíbas, que corresponderam pronta e generosamente aos pedidos de auxílio de dirigentes africanos, para colaborarem na defesa das suas independências, arduamente conquistadas.

A missão, que foi longa e dura, resultou vitoriosa, tendo atingido o seu apogeu em 1988, no Cuito-Cuanavale, onde as forças cubano-angolanas obtiveram sobre as armas sul-africanas uma decisiva vitória (Enquadramento e descrição da batalha acessíveis na Internet em Reflexões de Fidel – Mandela morreu). Este resultado na frente militar, bem secundado no campo diplomático, impôs ao racismo sul-africano uma derrota estratégica, que mereceu de Nelson Mandela o seguinte comentário, em Julho de 1991:

“Cuito-Cuanavale foi a viragem para a luta de libertação do meu continente e do meu povo do flagelo do Apartheid. (Jornal “Avante”, 20.03.08).

Olhando, mesmo só de relance, para a situação presente, não é difícil concluir que o Imperialismo quer ter “mãos livres” para prosseguir a operação em curso, de brutal recolonização do martirizado Continente Africano: antes foi em nome da “civilização”; agora é no da “democracia”. Este é um dos motivos pelo qual são utilizados todos os tipos de calúnias, para tentar desacreditar aqueles que desde Outubro de 1917, consequentemente, se têm batido pela emancipação dos povos.

Tinha razão Mandela, quando disse que a vitória do Cuito-Cuanavale fora a viragem e não o fim da luta pela libertação do seu Continente. Essa luta continua; e os comunistas, como dignos seguidores dos revolucionários de Outubro, continuarão a ocupar nela o seu lugar.

E NÓS

Uma boa parte dos formadores de opinião, que nos Media editados em Portugal atacaram a Revolução de Outubro de 1917, aproveitaram para caluniar também o Partido Comunista Português; também, neste caso, como veremos, pelos mesmos motivos.

Atendendo ao propósito que anima estes jornalistas ou comentadores, era de esperar que tal acontecesse. É que o PCP, desde cedo na sua já longa vida, definiu, muito justamente como se tem vindo a confirmar, que em Portugal a luta contra o Fascismo era inseparável do combate ao Colonialismo; e cumpriu com honra essa decisão, apesar das difíceis e arriscadas condições impostas pela clandestinidade.

Sempre que solicitados, os comunistas portugueses deram apoio activo e solidário aos lutadores anticolonialistas. O planeamento e execução da protecção e do transporte de Agostinho Neto e de Vasco Cabral do nosso País para o continente africano, tendo sido muito importante, não deixou de ser, apenas, uma das muitas missões em que membros do Partido Comunista Português, ombro a ombro com patriotas africanos, afrontaram o Colonial/Fascismo.
E são um bom sinal, de que os portugueses organizados no PCP continuam no caminho certo, as vagas de calúnias com que periodicamente os Media dominantes os “mimoseiam”, por se recusarem a integrar o cerco à Venezuela Bolivariana (no qual pontificam luzidas figuras como Rajoy, o Director da CIA, Juan Luís Cébrian, Temer, Trump, Bernard-Henri Levy, Gustavo Cisneros, Macron, etc.).

Ou seja - continuam no seu posto: DO LADO DA DIGNIDADE DOS HOMENS E DA SOBERANIA DOS POVOS.

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