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Diário Liberdade
Sábado, 04 Agosto 2018 19:11 Última modificação em Quarta, 08 Agosto 2018 16:56

"(B)RICS+": Plataforma anti-hegemonismo

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/ Direitos nacionais e imperialismo / Fonte: New Eastern Outlook

[Salman Rafi Sheikh, Tradução da Vila Vudu] NOTA DOS TRADUTORES: Nessa tradução escreveremos "(B)RICS+" (o Brasil entre parênteses), para fazer lembrar que desde 2/12/2015 o Brasil vive sob golpe. Ninguém deve pressupor que, por estarem presentes à reunião dos (B)RICS, as autoridades brasileiras que lá apareçam tenham qualquer legítima representação democrática.

Com o velho hegemon, os EUA, consumindo desatinadamente as próprias energias para fomentar conflitos desnecessários, em delírios de guerra contra inimigos imaginários, o que o aproxima do estágio de esgotamento e fadiga, abre-se o caminho para todos os contra-hegemonistas, e a crise extrema torna-se mais provável a cada minuto. Nesse ponto, para impedir o Armageddon, é recomendável que se organize o movimento contra-hegemonista. 

A ascensão dos "(B)RICS+" indica claramente essa organização do contra-hegemonismo do qual o mundo tanto carece, para pavimentar o caminho para um sistema e uma ordem internacionais que (i) limitem a capacidade do velho hegemon para manipular e dominar; e (ii) trabalhem como ferramentas para impedir crises, ferramentas que, em outras circunstâncias, não seriam necessárias. 

Essa foi precisamente a mensagem enviada ao mundo pela mais recente reunião de cúpula do grupo (B)RICS realizada na África do Sul: o unilateralismo, do qual os EUA são defensores beneficiários desde a 2ª Guerra Mundial, é modo a ser descartado para conduzir a política global em termos econômicos e estratégicos; e o conceito que define o sistema global contemporâneo é o multipolarismo.

A China fez referência direta e específica à retirada unilateral dos EUA do acordo firmado para o Irã, quando Xi conclamou os estados a "obedecer à lei internacional e às normas básicas que governam as relações internacionais e a superar as disputas com diálogo, e as diferenças, com consultas".

E, se as tendências ao unilateralismo devem ser contidas e se se deseja evitar o caos, com certeza é indispensável uma nova lógica para as práticas internacionais. Xi confirmou tudo isso, ao acrescentar que os (B)RICS já estão trabalhando para "um novo tipo de relações internacionais" – já agora inevitáveis, em plena crise para a qual o velho hegemon incontáveis vezes empurrou o mundo.

Xi também lançou um dardo contra a guerra comercial que os EUA fazem contra a China, ao se referir a um novo tipo de relações internacionais, pelas quais o comportamento de uma superpotência como os EUA em relação à China jamais seria aceitável ou sequer possível. A visão, em poucas palavras, implica construir o que Xi chamou de "uma rede de parceria mais próxima" não só entre os (B)RICS mas também para fora deles, expandindo-se a paisagem para outros mercados emergentes, criando assim os "(B)RICS+" e a cooperação dos "(B)RICS+" com outros grupos regionais – , como a Organização de Cooperação de Xangai, a União Africana [grandeprojeto do coronel Gaddafi, assassinado em 2003, em golpe para destruir a Líbia, concebido e executado pelo governo Obama-Clinton (NTs)], a União Econômica Eurasiana e a Iniciativa Baía de Bengala para Cooperação Técnica e Econômica Multissetorial [ing.BIMSTEC], organização internacional de sete nações do Sul da Ásia.

Um importante mercado emergente que esteve presente na cúpula de Johanesburgo foi a Turquia, segunda maior potência militar da OTAN, mas atualmente com diferenças em relação à política da organização para a Rússia. O interesse da Turquia em expandir suas relações para além do hoje fracassado sonho de integração com a União Europeia, está alimentando o processo de construção de sua própria rede de relações econômicas; daí a ideia de Erdogan, de que os países (B)RICS aceitem a Turquia e convertam-se em (B)RICST.

A mudança de posição da Turquia deve-se também ao tumulto infindável que assola o Oriente Médio. Embora a Turquia não possa mudar a própria localização geográfica, pode ainda conectar seus mercados com países onde os negócios estejam menos expostos a levantes geopolíticos e possam desenvolver-se melhor. A crescente crise entre EUA e Irã só fez aumentar as preocupações da Turquia – e é crise que não dá sinais de estar arrefecendo.

Os grandes países (B)RICS, China e Rússia, opõem-se a qualquer escalada no conflito EUA-Irã, e não há dúvida de que estarão ao lado do Irã, no caso de o conflito escalar. O Irã, que já é visto como membro não oficiais dos "(B)RICS+", não só está profundamente integrado com Rússia e China, em termos geoestratégicos e econômicos, como, além disso, é ator chave, que facilitou e continuará a facilitar a presença desses países no Oriente Médio.

Assim sendo, se eclodir guerra militar e econômica entre EUA e Irã, afetará enormemente os dois estados, Rússia e China. Considerando que os EUA já trabalham num novo tipo de 'OTAN Árabe', Aliança Estratégica do Oriente Médio, para conter o crescimento do Irã no Oriente Médio, a lógica dos "(B)RICS+" com o Irã, como com a Turquia, como futuros parceiros, torna-se ainda mais compreensível.

Enquanto os "(B)RICS+" com Irã e Turquia incluídos como membros expandem-se para o Oriente Médio e a Europa, a mesma expansão está também em perfeita sintonia com os objetivos fixados na cúpula de 2018, segundo os quais deve ser criada, como parte de um novo formato de relações internacionais, uma "plataforma unificada de arranjos regionais de integração", com alcance transcontinental, que avance muito além dos acordos regionais, para alcançar outras nações em desenvolvimento.

Significa que as redes econômicas que estão emergindo dos "(B)RICS+" não ficarão confinadas aos países membros. De fato, os "(B)RICS+" serão uma plataforma, uma modalidade de agrupamento, para conectar-se com outros agrupamentos regionais dentro do Sul Global.

Já aparecendo definida como "a mais inclusiva plataforma para cooperação Sul-Sul com impacto global", o "(B)RICS+" está portanto sendo montado para elevar o Sul Global a nível superior, frente ao qual o unilateralismo do norte global conduzido pelos EUA acabará por se autocondenar ao fracasso no plano global.Confrontado por um novo grande contra-hegemon, o velho hegemon será sem dúvida contido e, em grande medida, as vítimas do unilateralismo acabarão isoladas.*******



* Salman Rafi Sheikh, analista-pesquisador de Relações Internacionais e assuntos domésticos e internacionais do Paquistão, exclusivamente para esse New Eastern OutlookNEO.

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