O abstencionismo representou 30% dos votos.
O direitista PP (Partido Popular), atingido em cheio por denúncias de corrupção, apareceu como o vencedor com 137 vagas, de um total de 350, 14 a mais que nas eleições passadas. Longe dos 10,86 milhões dos votos de 2011, mas favorecido pela restruturação do sistema eleitoral, por territórios.
O outro braço do bipartidarismo espanhol, o Psoe (Partido Socialdemocrata Espanhol) obteve 90 vagas, cinco a menos que nas eleições passadas; os piores resultados da sua história. A direita reciclada, Cidadãos, perdeu oito vagas, de 40 para 32.
A “socialdemocracia reciclada”, Podemos, aliado de Esquerda Unida, obteve 71 vagas, contra as 69 de dezembro, após ter propagandeado que iria deixar o Psoe muito para trás e ter enfrentado resistência interna sobre essa aliança. O cálculo era que, somando os votos obtidos em dezembro por ambos partidos (seis milhões), ficaria por cima do Psoe. Mas acabou ficando quase 400 mil votos abaixo.
O drama do governo espanhol ficará mais claro a partir do dia 19 de julho quando serão constituídas as Cortes para a XII Legislatura.
O bipartidarismo é o regime ideal para o grande capital que depende do controle do estado para garantir os lucros.
GOVERNO FRACO PARA APERTAR O “AJUSTE”
A imprensa burguesa tenta apresentar uma direita fortalecida. Esses resultados foram impostos, em grande medida, por meio de uma campanha feroz, por meio do medo da saída da União Europeia, após a vitória do Brexit, o medo de perder o mercado europeu, de perder a livre circulação na Europa e de que a extrema direita voltasse a levantar a cabeça. Na realidade, o regime burguês de conjunto foi atingido em cheio pela crise. Para governar, se precisa 176 vagas, o que requer alianças complexas em meio ao aprofundamento da crise capitalista. Em aliança com a direita reciclada de Cidadãos, conseguiria somar 169 vagas.
No centro da política para o próximo período, estarão os “planos de austeridade”, os cortes de despesas no setor público, os despejos, o aumento dos impostos. O aprofundamento da crise capitalista está colocado, assim como o repúdio da esmagadora maioria da população a essas políticas que levaram ao completo sucateamento das condições de vida: 22% de desemprego (oficial), queda dos salários e aposentadorias, pioria dos serviços públicos, imigração em massa. E tudo para continuar garantindo os lucros de um punhado de parasitas. As massas farão a própria experiência no próprio período, mas deve esperar-se crises em larga escala, principalmente conforme a crise continuar escalando nos países centrais.
A implosão do bipartidarismo revelou claramente os problemas que lhe são inerentes, como a corrupção generalizada, a incapacidade de resolver os gravíssimos problemas que atingem o país e o crescente esgotamento dos colchões de controle social, entre outros.
O bipartidarismo espanhol atual foi criado no final da ditadura de Francisco Franco, na primeira metade da década de 1970. A fragmentação parlamentar reflete o fracasso das políticas de austeridade. A evolução da situação política revela que a crise tem como tendência se acentuar.
A CRISE DO REGIME POLÍTICO
A crise do regime político reflete o aprofundamento da crise capitalista. O país se encontra em recessão há sete anos.
Nas últimas eleições autonômicas, que aconteceram em 13 das 17 autonomias, no ano passado, o PP ganhou na maioria dos lugares, mas não conseguiu maioria em nenhum dos parlamentos regionais e na maioria das assembleias municipais.
Um governo da esquerda do regime ficou muito complicado, pois geraria um governo muito fraco que, além do Psoe e de Podemos, requereria a participação dos partidos menores.
Mariano Rajoy, o atual primeiro ministro, do PP, tem como aliado prioritário o Psoe. O problema é que uma “Grande Coalisão”, seguindo o modelo alemão, tem sido a realidade do sistema, de maneira recorrente e de maneira formal ou informal. Com a crise o desgaste escalou. Rajoy é identificado com os planos de austeridade, ainda mais que o próprio PP. O desemprego tem sido mantido em torno aos 22%, nos últimos anos, mas os novos empregos são cada vez de pior qualidade. A qualidade da vida está piorando enquanto avançam as políticas de “austeridade”.
O Psoe entrou em crise, ameaçado de se tornar o Pasok grego, uma espécie de cadáver político. Uma aliança com o PP poderá deixar claro a direitização do Partido e implodi-lo. No dia 9 de julho, acontecerá a reunião do Comitê federal do Psoe para tomar posição oficial. O mais provável é que o Partido se mantenha na oposição, o que inviabilizará, mais uma vez, a formação da maioria necessária para governar. O principais dirigentes têm declarado que não irão formar governo e que ficarão na oposição, mas que não irão “obstaculizar” que Rajoy governe.
O PP, que agrupa a todas as alas da direita, até a extrema direita franquista, enfrenta o crescente repúdio das massas perante os planos de ajuste/ austeridade. E o pior ainda está por vir. O que está colocado, da mesma maneira que acontece em escala mundial, é quem e como conseguirá aplicar ataques ainda maiores contra as massas por causa da incapacidade para colocar em pé uma política alternativa ao “neoliberalismo” perante o acelerado aprofundamento da crise.
SE ACENTUARÁ O NACIONALISMO SEPARATISTA
O principal instrumento do imperialismo espanhol para conter o independentismo, em termos eleitorais, no País Basco e na Catalunha, é o Podemos, onde se tornou a primeira força eleitoral. O mesmo papel cumpriu em relação a canalizar os gigantescos protestos que aconteceram há três anos para a via eleitoral.
Na Catalunha, Podemos superou a ERC. A CUP não participou nas eleições.
No País Basco, EH Bildu perdeu 20% dos votos, em relação a dezembro, e ficou em quarto lugar junto com o PP. Na Galiza, o PP se fortaleceu e a esquerda reformista se enfraqueceu.
A burguesia local persegue melhores condições de negociação com o imperialismo espanhol e europeu, pois percebe que lhe será impossível conter as massas por causa do aprofundamento da crise capitalista e dos apertos promovidos pelos planos de austeridade.
As sucessivas derrotas da direita europeia e mundial representam a crise das possibilidades eleitorais, a rejeição no plano eleitoral devido ao movimento geral de desagregação e desintegração da Europa imperialista, como um dos aspectos chave da crise geral. Fatos similares somente aconteceram pela última vez no século XIX, após as revoluções de 1848, quando começaram a ase desenvolver os movimentos nacionais, o que dá uma ideia do tamanho da crise.
A partir de uma análise impressionista, uma parte significativa da esquerda conclui que a democracia é forte e que esquerda está se fortalecendo enquanto a direita está em franco declínio. Essa visão coloca somente uma parte do problema.
As tentativas de atacar as massas em larga escala, pela direita tradicional, estão enfrentando crescente oposição e enormes dificuldades para avançar, no Estado Espanhol e em escala mundial. Mas a burguesia não tem nenhuma outra política a não ser atacar as massas.
A diferença entre um governo da ala esquerda da burguesia imperialista, como o governo francês, por exemplo, e um governo de direita, como o espanhol, é que o primeiro ataca as massas de maneira confusa, enquanto a direita promove os ataques de maneira organizada, mas tanto um quanto o outro refletem a crise do regime político. Essa crise representa o fim de uma era, a derrota do neoliberalismo, a desmoralização da direita no terreno eleitoral, que também acontece com a esquerda.
O esgotamento do neoliberalismo de maneira definitiva após o colapso capitalista de 2008, mostra, em termos políticos, a inexistência de outra política, alternativa ao “neoliberalismo”, além de “mais do mesmo”, e a inviabilidade de impô-la por meios parlamentares.
A DIREITA RUMO À EXTREMA DIREITA
O processo independentista na Catalunha tem aberto uma crise enorme no decrépito imperialismo espanhol e também no imperialismo europeu. Criou um precedente crítico na Espanha e na Europa, que recentemente se manifestou na vitória do “Brexit” na Grão Bretanha, onde a opressão das minorias e o movimento independentista têm escalado por causa do aprofundamento da crise capitalista. As burguesias nacionais estão perdendo dinheiro e, por isso, impulsionam o separatismo. O imperialismo tenta conter os movimentos separatistas, mas, com pouca “bala na agulha”, a contenção fica muito mais difícil.
No centro da política dos governos autonômicos, para o próximo período, foram colocados os planos de austeridade, os cortes de despesas no setor público, os despejos, o aumento dos impostos. O aprofundamento da crise capitalista está colocado, assim como o repúdio da esmagadora maioria da população a essas políticas que levaram ao completo sucateamento das condições de vida.
A certa “estabilização” obtida por meio dos gigantescos repasses do BCE (Banco Central Europeu) aos bancos espanhóis e europeus está com os dias contados. Ela já fracassou nos Estados Unidos e na Grã Bretanha, e no Japão, onde a economia segue no chão. Os crescentes déficit e o governo fraco são os ingredientes para a União Europeia aumentar os apertos contra o Estado espanhol, o que somente pode conduzir a novas e mais profundas crises. Os novos trilhões de euros são direcionados para a especulação financeira por meio das conhecidas medidas ultra podres de QE (quantitative easing ou alívio quantitativo).
A burguesia local persegue melhores condições de negociação com o imperialismo espanhol e europeu, pois percebe que lhe será impossível conter as massas por causa do aprofundamento da crise capitalista e dos apertos promovidos pelos planos de austeridade.
As sucessivas derrotas da direita europeia e mundial representam a crise das possibilidades eleitorais, a rejeição no plano eleitoral devido ao movimento geral de desagregação e desintegração da Europa imperialista, como um dos aspectos chave da crise geral. Fatos similares somente aconteceram pela última vez no século XIX, após as revoluções de 1848, quando começaram a ase desenvolver os movimentos nacionais, o que dá uma ideia do tamanho da crise.
A direita, perante a rejeição eleitoral, está se deslocando para o plano extra-eleitoral, onde ela têm promovido uma série de medidas na direção do fascismo. Os grupos de extrema direita têm crescido não somente na Europa, mas também no mundo todo. Onde a crise tem se aprofundado, a movimentação toma matizes muito evidentes, como pode ser visto com muita clareza na Inglaterra, na Grécia, na França, na Polônia, na Áustria e até na Alemanha.
A tendência política pode ser avaliada inclusive pela Revolução Espanhola. A direita tentou conter a crise com a ditadura de Primo de Rivera. Quando não o conseguiu mais, o golpe militar apareceu como a única alternativa e acabou se concretizando numa das mais sanguinárias ditaduras que o mundo já conheceu, o Franquismo.