Críticos podem argumentar que seja grande aprimoramento em relação à situação atual, na qual o Fed vive de tentar esconder o quanto servilmente serve aos bancos gigantes de investimentos de Wall Street, por trás de uma nuvem de 'independência' construída a golpes de Relações Públicas e Propaganda. Mas a ideia de um homem controlar o preço da moeda de reserva mundial e, assim, o preço dos ativos financeiros e de mercadorias por todo o planeta, também é perturbadora. Já vimos como a determinação do Fed para enriquecer seu eleitorado resultou em bolha atrás de bolha, todas com dimensões Titaníquicas, de preços de ativos.
Imagine-se que esse poder seja depositado num único indivíduo que pode ser tentado a usar toda essa autoridade para modelar eventos econômicos de modo tal que aumente e perpetue o próprio poder político. Ainda assim, depois de sete anos de Depressão induzida pela política, que elevou a desigualdade a níveis jamais vistos desde os Anos Dourados, acho que é mais que hora de o presidente usar o próprio poder para escolher pessoas que ponham o Fed novamente sob controle do governo. Mais informações de contexto, do LA Times:
"Donald Trump elevou a níveis sem precedentes a crítica contra o Federal Reserve durante a campanha. Como presidente, pode remodelá-lo bem rapidamente (...) Trump terá ocasião de indicar nada menos que cinco das sete pessoas que dirigem o Fed só no primeiro ano e meio de mandato. Entre esses, alguém para substituir Janet L. Yellen, cujo mandato expira no início de 2018 (...).
Trump martelou Yellen nos meses finais da campanha (presidencial), acusando-a de manter a taxa de referência "artificialmente baixa" para ajudar o presidente Obama e Hillary, democratas amigos dela.
"Acho-a política demais e acho que devia sentir vergonha do que faz" –, disse Trump à CNBC em meados de setembro. No primeiro debate presidencial, duas semanas depois, declarou que "o Fed é mais político que Hillary Clinton."
E o vídeo final de campanha de Trump incluía imagens do Fed e de Yellen, mostrada como parte do "establishment político" que "sangrou nosso país até o osso" (...)
"Nunca antes tivemos presidente eleito que não só critica o modo como a política do Fed foi executada (...) mas que também acusa a presidenta do Fed de estar minando a instituição, por se ter posto em conluio com seu oponente e com a Casa Branca" – disse (James) Pethokoukis. – "Deixamos o grid de largada. Estamos pisando território não mapeado." (Trump martelou o Fed, como candidato. Como presidente, pode rapidamente mudar tudo, LA Times, ing.).
Pode-se assumir com segurança que a Suprema Corte refletirá a atitude de laissez-faire de Trump, favorável às corporações e ao big business. A questão é: o que se pode esperar do Banco Central, a partir do momento em que Trump assumir o serviço na Casa Branca?
É difícil dizer, principalmente porque Trump frequentemente abraça duas visões contraditórias, ao mesmo tempo.
O que quero dizer com isso?
Quero dizer que, por um lado, Trump é animado líder de torcida a favor do não intervencionismo, do capitalismo de livre mercado; mas, por outro lado, é dedicado demagogo de direita que parece ansiar pelo apoio das massas, o que se vê claramente quando diz coisas como:
"Querem saber quem é mais duramente agredido (pelas políticas de dinheiro fácil de Yellen)? O pessoal que durante 40 anos de vida economizou 100 dólares a cada semana (no banco) (...). Trabalharam a vida toda para economizar, e agora o que acontece é que estão sendo empurrados à força para um mercado de ações inflado, e em algum momento serão varridos de lá."
Assim sendo, como o popularismo de Trump modelará suas ideias sobre quem deve e quem não deve ser membro da direção do Fed?
Não sabemos, mas sabemos que a política monetária vai mudar muito, se comparada aos últimos oito anos de experimentalismo improdutivo, porque Trump cercou-se de industriais que abraçam filosofia completamente diferente em relação à que é praticada atualmente. Vejam aqui, do analista de moedas Tommy Behnke:
"Algumas das vozes econômicas mais razoáveis do mainstream estão incluídas no círculo mais íntimo de Trump. Entre esses, David Malpass de Encima Global, cossignatário, com Jim Grant, de uma carta em que criticam e opõem-se ao programa "inflacionário" e "distorsivo" de alívio quantitativo do Fed; John Paulson, de Paulson & Co., que fez bilhões no mercado imobiliário encolhido de antes da Grande Recessão; Andy Beal, que se autodescreve como "tipo de sujeito libertarista" e culpa o Fed pela crise do crédito; e Stephen Moore, da Heritage Foundation, que disse à CSIN em 2012 que é "crítico muito severo" das "políticas de dinheiro inacreditavelmente fácil do Fed, da década passada."
Ainda que nenhum dos conselheiros econômicos de Trump seja, de modo algum, [da escola econômica austríaca] austríaco, ainda assim são muito mais linha-dura (liberal) que a maioria dos passados conselheiros econômicos dos presidentes Bush e Obama." (Por que o presidente Trump desinfetará o Fed, Mises Institute [ing.])
Trump, que não é fã do programa do Fed de compra de ações conhecido como Alívio Quantitativo [ing Quantitative Easing, QE] já admitiu que acha que as ações estão numa bolha, sugerindo que ele próprio, provavelmente, adotará abordagem mais conservadora na política monetária. Nem assim se altera o fato de que terá oportunidade para nomear pessoalmente a maioria da Comissão Federal do Mercado Aberto [ing. Federal Open Market Committee, FOMC, comissão do Fed], o que significa que estará numa posição que lhe permitirá exigir lealdade, como condição para a nomeação. Alguém duvida que Trump sempre preferirá controlar ele mesmo o Fed, em vez de deixá-lo entregue às garras dos bancos degoladores, de Wall Street?
Não há dúvidas de que os efeitos distribucionais das políticas do Fed ajudaram a catapultar Trump para a Casa Branca. Milhões de norte-americanos da classe trabalhadora que estão nauseados de tantas políticas monetárias de "gotejamento para baixo" [ing. "trickle down" policies] e de acordos comerciais devoradores de empregos encontraram na candidatura Trump um modo de manifestar a própria frustração. Essa ira coletiva explodiu repentinamente nas urnas dia 8 de novembro, empurrando o magnata da indústria imobiliária para uma vitória arrasadora sobre sua adversária Clinton, numa eleição que muitos estão chamando de "virada política do século".
Trump firmou o pé nessa mola de fúria e frustração, ao se pôr a denunciar "o establishment político falido e corrupto", dois campos em que tanto Hillary Clinton como o Fed destacam-se praticamente sem concorrentes à altura. Agora, Trump prepara-se para levar seu ataque ao nível seguinte, com operação surpresa contra o Fed, o que deixará Wall Street órfã de sua agência de poder e entregue à própria sorte. Aqui, rumores no New York Times:
"Uma das posições centrais de vários conselheiros de Trump é que a prolongada vigência das políticas emergenciais promoveram uma bolha no mercado de ações, deprimiram a renda dos poupadores, assustaram o público e estimularam a má alocação dos capitais," disse Ian Shepherdson, economista chefe de Pantheon Macroeconomics. "Nesse momento, essas ideias são minoria no FOMC do Fed, mas os indicados por Trump muito possivelmente trocarão a agulha" (Com Trump no poder, o Fed apronta-se para recalcular a rota, New York Times [ing.])
Ah, que vão "trocar a agulha", vão. Depois, pôr-se-ão a caminho direto para o coração da serpente. O Fed teve todas as oportunidades para mostrar onde depositava suas lealdades, e sempre, sempre, as depositou aos pés de Wall Street. Há razão pela qual 95% de todos os ganhos de renda nos últimos oito anos foram para o 1%, enquanto a classe trabalhadora padece para pôr comida na mesa. Assim também há uma razão pela qual as ações triplicaram de valor nos últimos oito anos, enquanto os salários estagnaram e a economia parou ou, no máximo, ainda consegue rastejar. É a política, estúpido!
O Fed criou condições para uma Depressão permanente, de modo a poder fornecer dinheiro barato aos seus pervertidos [orig. crooked (ing.): é a palavra que Trump usou incontáveis vezes contra Hillary durante a campanha] amigos em Wall Street. Agora, a farra deles está começando a acabar.
Que se fodam! [ing. Boo fucking hoo]