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Diário Liberdade
Quinta, 27 Setembro 2018 00:40 Última modificação em Quinta, 27 Setembro 2018 00:43

Senzala: em Defesa do Tradicionalismo

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Mário Maestri

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Quando quiseram fazer certo, receberam reguaço forte nos dedos, ao igual que nas escolas de antanho. A protestação foi grande, por parte de lideranças negras. Os tradicionalistas responsáveis desmontaram incontinenti a senzala, assustados com o entrevero que causara, apesar das intenções mais do que boas.


Cleonilton Almeida, responsável pelo piquete, lembrou que pretendiam apenas reconstruir as senzalas onde os lanceiros negros viveram antes da Guerra Farroupilha. Porém, propõe: “A comunidade negra [sic] entende que colocar [a figura do negro] como subjugado é prejudicial” para “as novas gerações”. 
 
Há décadas não ia lá. Fui ao Parque ver em loco o motivo do arranca-rabo feio. Da “senzala” não restava mais nada, a não ser a parede de madeira, pintada de negro, já com a palavra “senzala” apagada.  Mais atrás, dentro do galpão, alguns quadros encostados nas paredes,  entregues pelas lideranças negras, segundo parece representando “orixas”. Perguntei a um senhor negro, veterano como eu, que olhava tudo meio atrapalhado: - E a senzala? Respondeu-me chateado: - Vim da Restinga para ver.  Não tem mais.
 
Os tradicionalistas e a população porto-alegrense, sem exceções, certamente não entenderam quase nada do entrevero. Afinal, historiadores se esforçaram, durante décadas - entres eles eu - para lembrar a importância da escravidão no passado sulino, negada através de limpeza étnica feita em  nossa história regional. E, agora, lideranças negras vetam a exposição de “senzala” sulina!  Afinal, ela fez ou não fez parte da história sul-rio-grandense?  Teve ou não teve senzala no Rio Grande do Sul? Por que censuraram a senzala tradicionalista? Tentando responder a essas dúvidas, entro neste angu-de-caroço, desta vez [cruz credo!] em defesa dos tradicionalistas, ensaiando explicação mais acabada do que realmente aconteceu. 
 
Na rápida visita à “ex-senzala”, pedi informação ao pessoal do piquete que, meio desajeitado, me enviou a um jovem negro, bem articulado, que procurou me explicar, rapidamente, a insatisfação das lideranças negras. Segundo ele, a “senzala” não dizia tudo sobre o passado negro-rio-grandense. O importante era focar os “lanceiros negros”. Porém, concordou comigo que os combatentes negros farroupilhas haviam sido escravizados e vivido, eventualmente, em “senzalas”. E que elas eram, sim, parte importante do passado escravista. Ficou devendo-me a explicação para  censura, para a qual me  arrisco a apresentar duas.
 
A Senzala é Nossa
 
Primeira tentativa de explicação. O veto deveria-se à eventual insatisfação de segmentos negros organizados que uma questão atinente ao passado afro-rio-grandense tenha sido abordada por tradicionalistas brancos. Atualmente, é ampla e organizada a corrente “identitária” que rejeita iniciativas-utilização, de qualquer tipo, sobre seu “grupo identitário” que não seja iniciativa de membro da  própria comunidade - racial, sexual, nacional, etc.  Toda ação que não respeite esse script é anatematizada como “apropriação cultural”, categoria sobre a qual há já rica literatura. 
 
No frigir dos ovos, propõe-se que cada grupo identitário tem seus próprios indicadores históricos, religiosos, gastronômicos, musicais, de vestuário, etc.  Esses últimos não devem jamais serem usados-explorados-vividos por membros de outras comunidades.  Ou seja, cada um “no seu galho”. Italiano come e vende pizza; alemão, chucrute; árabe, quibe; negros, acarajé, etc. Recentemente enfuriou polêmica devido ao ataque ao uso por mulheres brancas de “turbante”, por feministas negras que defendiam - sem muita argumentação - ser esse indumento patrimônio cultural negro-africano. Na época, escrevi o comentário “A guerra dos turbantes”.
 
No geral, essa posição parece apenas propor monopólio sobre complexos culturais, profissionais, etc. por grupos identitários. Porém, o sentido-objetivo dessa proposta é mais amplo e grave. Em uma cópia quase fiel das políticas estadunidenses ditadas pelo grande capital, uma tendência do movimento negro organizado defende verdadeira racialização da sociedade brasileira. Defende que a organização de nossa sociedade é, em forma essencial, racial e não social. Ou seja, o social seria determinado pelo racial, dominante. Antes da luta social, haveria a luta e a competição racial. Portanto, antes de tudo, é necessário separar os campos - brancos de um lado, negros do outro. 
 
Para tal visão, sendo o “negro pobre porque é negro”, impõe-se a mobilização racial contra o “branco” que, seguindo essa lógica, seria sempre “rico porque é branco”. E, se não for rico, é ao menos “privilegiado” pela discriminação ao negro. Logicamente, não se propõe modificação social gradativa, rápida ou súbita, já que o importante é equilibrar racialmente os “privilégios”. Ou seja,  não se propõe terminar com o “andar de cima” e suas mordomias, mas mandar alguns negros para lá! E, para tal, servem as medidas pontuais de “discriminação positiva”, mesmo que elas deixem a imensa maioria da população explorada e discriminada na pior. Logicamente, essa proposta suspende a luta pela democratização ou liquidação da “propriedade” e das atuais “relações sociais de produção”, já que jamais teriam sido e jamais seriam organizadoras centrais da exploração, discriminação e pobreza. 
 
A Propriedade, sempre a Propriedade
 
Os negros que hoje são pobres o são mais comumente por descenderem de trabalhadores escravizados, expropriados de enorme parte do produto de seu trabalho, mantidos na menoridade cultural, oprimidos pelo racismo, impedidos do acesso à propriedade-meios de produção. Handicaps negativos transmitidos tendencialmente aos seus descendentes, acrescidos, é lógico, do peso do racismo. Do mesmo modo que milhões de trabalhadores euro-descendentes brasileiros explorados herdaram de seus ascendentes, tendencialmente, a menoração social a eles impostas. Em forma definitiva, a desigualdade de todo tipo tem sua origem e se apoia essencialmente nas relações sociais de exploração dominantes. 
 
A “racialização social” e seus corolários negam e escamoteias sobretudo uma característica fundamental de nossa sociedade nacional. A que todos os trabalhadores brasileiros - e todos aqueles que se colocam no campo do trabalho -, não importando a cor, descendem sociologicamente dos cativos do passados. Assim como todos os exploradores, de todas as cores, ou todos aqueles que se colocam a serviço dos exploradores, descendem, sociológica e ideologicamente dos escravizadores do passado e de seus capatazes e feitores. A própria história nos ensina que, durante a escravidão brasileira, havia não poucos escravistas negros de ambos os sexos.
 
Para os trabalhadores de hoje, de todas as cores, o trabalho e a resistência de seus ancestrais, assim como a senzala, o eito, o enxadão, etc. são referências primordias de um passado que deve ser desvelado, revelado e compreendido, sempre contra a conspiração do silêncio dos exploradores que usaram o relho, ontem, e se serverm, hoje, do poder da propriedade e das instituições. O pessoal tradicionalista tinha, sim, o direito e o dever de apresentar a “senzala”, mesmo tendo feito essa recuperação histórica de forma pra lá de confusa e atrapalhada. Entretanto, os acertos foram, nesse caso, maiores do que os erros.
 
 Paradigma Perdido 
 
Segunda tentativa de explicação. Nos anos 1970-1980, a “senzala”, o “tronco”, “o cativo explorado e rebelado”, etc. foram temas históricos e simbólicos centrais da luta do movimento negro organizado contra o racismo, a escravidão e sua metamorfose atual, o capitalismo.  Atualmente, eles foram esquecidos e, não raro, negados pelos segmentos hegemônicos do movimento negro organizado. Nesse processo, empreendeu-se rejeição-destruição do passado e invenção de tradição criada sob medida para se ajustar aos objetivos político-ideológicos particulares do presente. Mutatis mutandis, o mesmo feito pelo tradicionalismo com a história real sul-rio-grandense.
 
Esse movimento veio de longe, para impor-se sem complexos. Há uns 20 anos, em palestra sobre os quilombos sulinos, creio que em Pelotas, uma professora negra fez-me uma pergunta que, na época, me surpreeendeu. - Professor Maestri. O senhor não tem outras histórias do “nosso passado”, a não ser o trabalho, o sofrimento e a resistência do cativo? Não tem história de cativos que se alforriaram, subiram na vida, tiveram sucesso, que sirva para desenvolver a auto-estima das crianças negras?” Respondi que não havia maiores símbolos positivos para as crianças brasileiras, sobretudo negras, do que saberem a história de um Zumbi dos Palmares, em Alagoas; de um Negro Cosme, no Maranhão; de um Almirante Negro, no Rio de Janeiro, entre centenas de outros. Na época, já compreendi que o conteúdo que a professora insatisfeita  e eu queríamos passar às crianças não eram apenas diversos, como opostos.  
 
Aquela visão hoje domina inconteste. Ao se referir à “senzala” tradicionalista, a professora e poeta negra Ana dos Santos repete aquela visão, tintim por tintim: “Várias crianças negras se viram acorrentadas, açoitadas nas suas almas, em vez de mostrar a história dos Lanceiros Negros. Para uma criança negra se espelhar no lanceiro, em um guerreiro, é bem diferente do que ver só o lado da escravidão”.   Um lado pleno, quase absoluto em enorme parte do nosso passado, que desembarcou no litoral do Brasil de três a cinco milhões de escravizados, determinando a medula dos ossos de nossa civilização. Mas vamos esquecer a escravidão! É sempre melhor que nossas criaças se vejam em um guerreiro-militar e jamais em um cativo-trabalhador!  
 
Esse deslocamento ideológico dos valores dos trabalhadores não é exclusivo das lideranças negras. Dele participou uma enorme parte da esquerda brasileira e mundial que, sobretudo após o tsunami neo-liberal dos anos 1990, abandonaram o programa do mundo do trabalho para a sociedade pelos sonhos das classes médias magnetizadas pelas promessas ilusórias das classes dominantes. Também as histórias das lutas operárias, das mulheres, dos camponeses, do socialismo, etc. foram deixadas de lado por temas amenos e socialmente pacificadores, alienantes, etc. - biografias, sexualidade, moda, etc. 
 
Ninguém ama o escravo
 
Ninguém quer ficar do lado dos perdedores. Também a historiografia é dominada pela mão, nada invisível, do “mercado”. Ela chega aos historiadores através dos centros de financiamento, programas de pós-graduação, editoras, grandes jornais, etc.  A historiografia da escravidão adaptou-se aos novos tempos social-liberais através do estudo obsessivo dos cativos que se alforriavam, mesmo que o fizessem raramente e já velhos, descapitalizando-se. Pesquisou-se os raros cativos que tiveram suas reivindicações defendidas pela Justiça, para demonstrar que podemos confiar nela , apesar de ter sustentado os poderosos e exploradores, não apenas nos dias de hoje. 
 
  Defendeu-se sobretudo a tese de escravizados que, sempre, obrigavam os negreiros a “negociarem", obtendo concessões não raro tão vastas que já não é mais possível saber quem eram os escravizados e os escravizadores. Propôs-se sem corar que a escravidão brasileira foi apoiada pelos cativos, que eles trabalhavam pouco, comiam muito, apanhavam quase nunca. Uma célebre historiadora greco-francesa foi consagrada no Brasil por defender essas sandices indecentes. Escrevi sobre o livro  célebre uma resenha com título “Como era gostoso ser escravo no Brasil”. 
 
Na escravidão, a moda das “histórias de vida” procurou isolar aqueles raríssimos cativos que se alforriaram e, por seus esforços, conseguiram, até mesmo, transformaram-se em ricos escravizadores. Um exemplo paradigmático de “empreendedorismo” para as crianças negras, merecedor de um programa especial da Globo, se já não foi feito. Era o sonho realizado da professora pelotense! Passar a mensagem para as crianças e jovens negros das escolas públicas que, com esforço, chegariam lá! Um e outro, ao menos. Muito logo, com o avanço do conservadorismo, tudo isso tornou-se insuficiente. Sobretudo para os segmentos da classe média negra, ou se esforçando para nela ingressarem, havia que afastar o fantasma de ancestrais oprimidos e portanto fracassados - “loser”.  Havia que retirar o retrato do ancestral escravizado molambento, explorado e sofrido do álbum imaginário dos ascendentes. 
 
Em operação subjetiva-ideológica empreendeu-se movimento em direção de uma África fantástica, habitada por princesas, príncipes e cavaleiros negros, livres da escravidão, da qual se pudesse deduzir uma ascendência, igualmente imaginada, na qual a escravidão colonial fosse um hiato que, de tão breve, desaparecesse nas representações contemporâneas do passado. Todos seriam assim Barak Obama - o negro-estadunidense que jamais descendeu de cativos! Destaque-se que nessa África imaginada, Nzinga Mbundi, a Rainha Ginga, transformou-se em heroína para coletivos femininos negros, apesar de ter sido uma terrível comerciante de cativos!
 
Em 1977, quando voltei de sete anos de exílio no Chile e na Bélgica, salvo engano, éramos, ao todo, cinco africanistas trabalhando com a África Negra Pré-Colonial no Brasil: meus amigos Kabengele Munanga, Carlos Serrano, José Maria Nunes Pereira e Fernando Mourão, os dois últimos já falecidos.  Após introduzir a disciplina África Negra Pré-Colonial na UFRJ e no Rio Grande do Sul, abandonei a disciplina pela escravidão colonial, literalmente por falta de interlocutores e interessados. Hoje, formou-se um “mercado” em contínua expansão, habitado por centenas de africanistas, não poucos literalmente inventados, outros, felizmente, primorosos. O que nos permitirá, finalmente, associar o estudo da escravidão colonial brasileira e as regiões que “cederam” os africanos escravizados. 
 
Devemos Festejar os Lanceiro Negros?
 
Mais duas questões fundamentais. Por que se dá tanto destaque aos “Lanceiros Negros” e pouco à escravidão sulina? E, sobretudo, há razão em celebrá-los? A celebração pelos segmentos dominantes do movimento negro dos Lanceiro Negros objetiva construir uma narrativa da participação, em pé de igualdade, do negro imaginado, em um dos principais mitos fundacionais da história rio-grandense contado desde a ótica das classes dominantes regionais. Ou seja, a Guerra e a República Farroupilha. Assim, demonstraria-se que os negros do passado também lutaram com coragem e com brio pela república rio-grandense. E mais, que ele foram, a seguir, traidos, em e após Porongos. O que permitirá integração sem dilacerações da comunidade negra nas celebrações farroupilhas. “Como a aurora precursora/Do farol da divindade/Foi o Vinte de Setembro/O precursor da liberdade.” 
 
Para além das fantasmagorias, os lanceiros negros, como os gaúchos, guaranis e charruas, pouco sabiam e pouco se interessavam nos objetivos políticos dos chefes farroupilhas. Para eles, república e monarquia eram conceitos que nada significavam e nada mudariam em suas vidas. Lutavam sobretudo por que eram obrigados. Lutavam também pelo saque, churrasco, aventura, etc. Quando podiam, desertavam. Tudo igual aos milhares de negros livres e ex-cativo que lutaram e morreram na guerra contra a República do Paraguai. Nas duas guerras, uns e outros lutaram contra seus interesses. Os chefes farroupilhas, em 1935, e os comandantes imperialistas, em 1865, defendiam, ambos, a manutenção da escravidão e do latifúndio. O sentido da luta dos “lanceiros negros”, ontem, sob as ordens dos escravistas, não seria diverso ao de um piquete negro, hoje, obrigado a fazer propaganda para o Bolsonaro.
 
Paradoxalmente, não há celebração referencial dos numerosos cativos e cativas que se serviram da luta entre os escravistas sulinos e imperialistas para escafederem-se para a serra, onde construíram pequenos quilombos. Anos após 1845, cativos e cativas fugidos durante o conflito eram capturados naquelas e outras regiões. Alguns viveram e morreram gozando essa liberdade pendente sempre por um fio. Um número ainda superior de cativos e cativas escaparam para além-fronteira,  Uruguai, Entre Ríos, Corrientes, etc., onde se tornaram trabalhadores livres. Todos eles foram premiados por acreditar que, “deus é grande, mas o mato é maior”! Ou seja, por não acreditarem nas promessas dos exploradores. Portanto, glória a ele, sim, que devem inspirar nossos atuais comportamentos. 
 
Mas o que era uma “senzala”?
 
Uma última questão. Senzala, em sentido lato, significou na escravidão brasileira qualquer moradia de “cativo” - unipessoal, familiar, grupal, etc. No sentido mais estrito, descrevia o local de encerramento, à noite, de grupo significativo de trabalhadores escravizados, depois de um esforço exaustivo, para facilitar o controle e reprimir a fuga. Raramente era local de castigo realizado, no campo, no terreiro ou, até mesmo, na “sala do tronco”, local especial para a punição, em fazendas escravistas maiores. O romance naturalista A carne, de Júlio Ribeiro, escrito em 1888, traz ótima discrição de “sala do tronco”.
 
Tivemos múltiplas tipologias de senzalas, construídas em materiais diversos, segundo a região e a época. Elas eram sobretudo construções rurais. Na cidade, mesmo quando trabalhava fora, o cativo dormia mais comumente na residência do escravista, nas cozinhas, nos corredores, nos quartos do sinhô e da sinhá, ao pé da porta ou da cama. Em alguns casos, tínhamos senzalas nos fundos dos amplos quintais dos solares urbanos, próximas aos galinheiros, chiqueiros, monturo, etc.  
 
No Rio Grande do Sul, as charqueadas e certamente as olarias tinham suas senzalas. Diversas delas foram identificadas. Salvo engano, falta informação sobre as moradias dos cativos que trabalharam, no final do século 18, começos do 19, nas plantações de trigo, em fazendas menores, de muitos bois de canga e pequenos eitos - de cinco a dez cativos. Na fazenda pastoril sulina, sem charqueada, desde o século 18, mais comumente, não havia senzala, no sentido estrito do termo. 
 
Em geral, as fazendas de uns quatro mil hectares trabalhavam com uns três ou quatro cativos e um peão livre. Uma légua de sesmaria não exigiria mais do que dez homens, em geral também “cativos campeiros”, e poucos peões. Nas fazendas pastoris, o trabalho era, digamos, menos ruim do que nas fazendas açucareiras, cafeicultores, etc., devido às exigências técnicas da produção. Até onde foi possível ver, os “cativos campeiros” dormiam no galpão, próximo ao fogo, como ainda faziam os peões livres, certamente, décadas após a Abolição. As cativas dormiriam  na “sede”, dedicadas às tarefas domésticas, com seus filhos. Havia pequenas “senzalas” unipessoais e unifamiliares, em algumas estâncias. 
 
Portanto, na fazenda pastoril pura, a “senzala” não era construção habitual. Os “cativos campeiros”, nos séculos 18 e 19, trabalhadores dominantes no pastoreio sulino e do norte do Uruguai, povoariam os galpões, onde o “peão” livre, mão de obra subordinada, não seriam abundantes.  Por essas coisas da vida, nossa história real, não a inventada, nos ensina que o Rio Grande não foi terra de gaúcho, como a Banda Oriental e as províncias de Corrientes, Entre Ríos, Santa Fé, Buenos Aires.  Portanto, há muito, mas muito ainda, a reformular, nas celebrações gauchescas! 
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