Jerónimo de Sousa sublinhou domingo à tarde a «violenta guerra ideológica» que procura reescrever a história «ao sabor das suas conveniências», sempre com o objectivo de «enclausurar o sonho e a esperança, eclipsar a memória colectiva dos povos e afastá-los da compreensão dos processos que marcam os últimos cem anos na vida do mundo contemporâneo».
O PCP realizou domingo em Lisboa a sessão de abertura das comemorações do Centenário da Revolução de Outubro, a primeira iniciativa de um diversificado programa que os comunistas vão desenvolver em 2017, no sentido de celebrar o «acontecimento maior e marcante no longínquo percurso de luta de gerações de explorados e oprimidos». Mas também de reflexão, debate, ensinamento e experiência «para a luta de hoje e de amanhã e, acima de tudo, de reafirmação da validade do ideal e do projecto comunista que continua vivo e com futuro».
Perante uma plateia que encheu o Fórum Lisboa, o secretário-geral do PCP evocou a Revolução de Outubro como uma «revolução triunfante, dirigida autonomamente pela classe operária e seus aliados, mormente o campesinato pobre, pelo seu partido de classe, o Partido Bolchevique, o partido de Lénine».
A primeira experiência de edificação de um tipo de sociedade nunca antes conhecido pela humanidade na sua história. «Celebraremos essa revolução vitoriosa, portadora de memórias de lutas e de sonhos de emancipação dos explorados e oprimidos, e o que transporta de desejo de futuro. Celebraremos a Revolução de Outubro pelo que projectou de profundas transformações a nível planetário, mudando a face do mundo, as suas realizações, conquistas e transformações a favor dos trabalhadores e dos povos», sublinhou.
O líder comunista acusa os detractores da Revolução de Outubro de a mistificar, «culpando-a pelas deformações, erros e desvios». Erros estes que, afirmou Jerónimo de Sousa, «em determinadas condições históricas, deram origem a um "modelo" que se prolongou no tempo e se afastou e contrariou o ideal e o projecto comunistas em questões fundamentais do ideal comunista e dos objectivos que conduziram à sua realização». Uma mistificação que se alarga à falsa ideia de que tal modelo é intrínseco ao pensamento e programa do marxismo-leninismo, denunciou.
O secretário-geral do PCP considerou que a Revolução de Outubro «continua a anunciar que outro mundo é possível» e que não é pelo facto de «o empreendimento da construção da nova sociedade – a sociedade socialista – se ter revelado mais difícil, mais complexa e mais acidentada do que nós prevíamos e anunciávamos, que se pode pôr em causa a sua justeza e a sua necessidade».
Por fim, Jerónimo de Sousa afirmou a sua convicção de que, apesar dos problemas e das dificuldades a vencer, «é no socialismo, e não no capitalismo, que os trabalhadores e os povos encontrarão resposta para as suas aspirações de liberdade, igualdade, justiça, progresso social e paz».
Sublinhou ainda que, em Portugal e no mundo, «não há avanço, progresso, esperança, que não tenha contado com as ideias, o esforço, a coragem, o sangue e a luta dos comunistas».
A sessão abriu com um momento cultural de evocação da Revolução com a projecção de um filme que assinalou alguns dos momentos mais marcantes do dia 7 de Novembro de 1917. A par deste, a iniciativa foi pontuada pela poesia, música e outras intervenções políticas.