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Diário Liberdade
Sábado, 10 Setembro 2016 09:00 Última modificação em Sábado, 24 Setembro 2016 11:09

Acidente mortal na linha Galiza - Portugal: comboio, vias e percurso de outro século Destaque

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/ Direitos nacionais e imperialismo, Repressom e direitos humanos, Consumo e meio natural / Fonte: Diário Liberdade

O descarrilamento do comboio Celta no Porrinho, que provocou a morte de quatro pessoas e feriu outras 48, é o segundo acidente ferroviário de gravidade registado na Galiza nos últimos três anos. Por enquanto, as causas do sinistro som desconhecidas, mas o debate sobre a qualidade e segurança das infraestruturas ferroviárias da Galiza e Portugal está novamente aberto.

À espera de maiores informaçons, é previsível que as autoridades burguesas tentem mais umha vez o maquinista (falecido, neste caso) resultar o único culpado polo desastre. Ao que parece, testemunhas descrevem umha alta velocidade do veículo, mas engenheiros e engenheiras civis consultados pelo Diário Liberdade assegurárom que, em verdade, as consequências de um excesso de velocidade nom teriam sido as mesmas se a via nom circulasse por umha área urbana, como na que aconteceu o acidente.

Deficiências do comboio

O comboio internacional que une Vigo e o Porto recebeu o nome de ‘comboio Celta’ em 2013, quando muitas das paragens que realizava fôrom suprimidas do itinerário e o tempo da viagem foi diminuído de aproximadamente três horas a duas horas e um quarto. No entanto, nom foi alterada a regularidade de circulaçom, que se manteve em duas saídas diárias de cada cidade, e o veículo encarregue de realizar o percurso nom foi substituído. Nem sequer o aumento continuado de passageiros, devido em parte ao crescente fluxo turístico entre a Galiza e Portugal, promoveu umha melhora nesse sentido.

O comboio, de fabrico espanhol e gerido por Comboios de Portugal, tinha 30 anos de antiguidade e apresentava deficiências persistentes e apreciáveis polos utentes na sua notável instabilidade, ao ponto de dificultar o acomodamento da bagagem e tornar penosa a viagem nos dias de temporal e ventos fortes.  Os cortes temporários na iluminaçom interna e as falhas do sistema de aquecimento e climatizaçom eram habituais durante o trajeto. Também eram frequentes alguns transtornos relacionados com a manutençom e a segurança, tais como o deterioração de portas e janelas ou o mau estado da proteçom do sistema elétrico, que deixava eventualmente cabos expostos. Além disso, ‘problemas técnicos’ sem especificar provocavam que, de maneira ocasional, os passageiros tivessem que enfrentar mudanças de comboio ou paradas inesperadas, às vezes fora de estaçom.

Apesar destes e outros problemas detectados polos passageiros do comboio Celta nos últimos anos, tanto as autoridades portuguesas como as galegas e espanholas afirmam que o comboio tinha superado as duas inspeçons anteriores ao acidente e que cumpria os requisitos para estar em circulaçom. No entanto, a hipótese de um falho do comboio nom foi ainda descartada.

Se bem é verdade que esta ainda sem demonstrar que os falhos descritos acima afetassem a segurança, em termos de estabilidade, do veículo (ou seja, que a instabilidade registada polas e polos passageiros fosse para além das toleráncias e deixasse de ser um problema de conforto para tornar-se qualquer cousa mais séria), engenheiras civis que conhecem a linha, consultadas polo Diário Liberdade, confirmárom que "os comboios som umha antiguidade" e que "isto era previsível".

Deficiências na manutenção dos comboios da Comboios de Portugal (CP) fôrom repetidamente denunciadas nos últimos anos por especialistas técnicos do seu quadro de pessoal. A CP, aliás, regista nos últimos 16 anos quatro acidentes com mortes como resultado, de um total de 20 sinistros. Som números mais do que preocupantes no que é, estatisticamente, o meio de transporte motorizado mais seguro junto do aviom. Cumpre lembrar que o comboio entre a Galiza e Portugal, que atinge até 120 km/h tem sistema de travagem exclusivamente manual, a acionar polo ou pola maquinista (se está ciente ou atenta), o qual é conforme à normativa vigorante.

O estado das vias

"O estado dos trechos nesse percurso é variável, mas o estado geral é de descuido", explica umha engenheira civil consultada por este jornal. Parece que o trecho estava em obras e no ponto do acidente houve um desvio do comboio do seu percurso habitual. Ao virar, o comboio descarrilou e bateu frontalmente com umha torre metálica.

Embora o estado do comboio e das vias fôrom insistentemente criticados por utentes e especialistas, parecem ser elementos que se somam a um fator chave: "em 2016 nom pode haver transporte ferroviário a alta velocidade a circular por zonas urbanas e em caminhos de ferro que não fôrom desenhados para essas velocidades", denuncia um engenheiro civil consultado polo Diário Liberdade.

"Em 2016 nom pode haver transporte ferroviário a alta velocidade a circular por zonas urbanas e em caminhos de ferro que não fôrom desenhados para essas velocidades", denuncia um engenheiro civil consultado polo Diário Liberdade. Nos últimos anos foi muitas vezes pedida (e prometido pelas autoridades de ambos os países) a modernização da linha. Mas ficou sempre todo em águas de bacalhau, enquanto um caríssimo comboio de alta velocidade (linha que, aliás, sofreu um acidente que deixou 80 mortos em Compostela em 2013) é construído para ligar a Galiza a Madrid. 


[Atualização de 09/09, às 16:00 GMT] Acidente ferroviário em comboio da Galiza para Portugal fez quatro mortes e 50 pessoas feridas

De acordo com testemunhas no local o acidente que ocorreu às 8.30 h deu-se numa reta e o comboio fez uma travagem muito brusca mas não evitou o descarrilamento. É o segundo acidente ferroviário com mortes que acontece na Galiza em só três anos.

O comboio fazia o trajeto da cidade galega de Vigo para o Porto (Portugal).

No local estiveram várias corporações de bombeiros, galegas e portuguesas, e os serviços de Proteção Civil. Para a zona do acidente foram igualmente enviadas equipas médicas de helicóptero, a partir de Compostela.

A presidenta da Câmara do Porrinho, onde aconteceu o acidente, disse ao jornal Público que no comboio seguia um grupo de turistas em direção ao aeroporto do Porto, pelo que entre as feridas há pessoas de várias nacionalidades, incluindo pelo menos portuguesa, norte-americana, coreana e italiana e galega.

Entre as quatro mortes, estão o maquinista português, dois galegos e uma pessoa cuja nacionalidade não foi ainda confirmada. As causas do acidente estão ainda por apurar, mas o comboio descarrilou e foi bater num poste de alta tensão.

Eu não fui, que foi o maquinista

Em todo o caso, já começou a vergonhosa cena com que as administrações autónomas galegas e as espanholas, que gerem essa nação submetida, tentam despejar responsabilidades. Assim, muito embora o delegado do regime espanhol Santiago Villanueva dissesse que "não é momento de fazer especulações sobre as causas do acidente", apressou-se a deitar suspeitas sobre o maquinista: "o que está claro é que havia obras ness trecho de via (...) e que havia uma velocidade de entrada determinada", insinuando que o maquinista teria-a ultrapassado e apontando sobre ele (falecido) a responsabilidade do sinistro.

Foi exatamente a mesma estratégia com que as autoridades de Madrid se desvincularam do acidente que em julho de 2014 deixou 80 pessoas mortas em Compostela, num comboio de alta velocidade que, no entanto, não dispunha de uma elementar norma de segurança: a travagem automática em caso de indisposição ou desatenção do maquinista.

Engenheiros consultados pelos meios galegos criticaram a existência de tramos de vias de ferro no interior de núcleos urbanos, neste caso o Porrinho, e lembraram que uma melhora da qualidade na ligação entre a Galiza e Lisboa teria evitado este sinistro. Outros engenheiros consultados pela imprensa portuguesa assinalaram a possibilidade de falhos no sistema de desviação pelo que o comboio atravessou imediatamente antes do acidente.

Convém, ainda, não esquecer que a Comboios de Portugal - companhia que geria o veículo acidentado no trajeto Vigo - Porto - soma já 20 acidentes nos últimos 16 anos. Vários deles com vítimas mortais.

Inclui informações de Esquerda.net

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