Em lugar de abordar a realidade desde o racionalismo, a partir da tentativa de compreender o que nos rodeia através do método científico, preferimos recorrer às explicaçons mais estrambóticas. Convertemo-nos em «magufos», neologismo decorrente de unir as palavras «mago» (mágico em espanhol) e «ufo» (ovni em inglês), seres crédulos dispostos a comprar qualquer teoria, quanto mais inverosímil, delirante e conspiranoica, melhor. Dá igual se som os chemtrails, as maquinaçons entre o Pentágono e os reptilianos, a cura do cancro que ocultam as farmacêuticas ou a homeopatia como substituta da medicina. O importante é que a tese desafie todo pensamento lógico, tenha um desenvolvimento circular que permita ao crente assegurar que «todo encaixa» e, se for possível, que se organize mediante umha boa razom de “conspiranoia”.
Na era da comunicaçom, há sectores em aparência progressistas que, em lugar de se ilustrarem, preferem recorrer ao site do primeiro xamám que encontram e que ofereça umha explicaçom consoante os seus preconceitos. É umha pandemia que atinge todos os campos, desde a política até a saúde pública. Num mundo onde supostamente fôrom alcançadas grandes quotas de preparaçom inteletual sempre haverá pessoas aparentemente educadas dispostas a atribuir aos Illuminatti o último atentado jihadista na Europa ou que as vítimas das atrocidades do ISIS recreiam umha coreografa filmada em algum estúdio do Qatar ou Arábia Saudita. Do mesmo modo, encontramos quem defenda a homeopatia ou as ervas como substitutos da medicina, julgue que as vacinas som parte de umha conspiraçom das farmacêuticas para promoverem o controlo mental ou assegure que o cancro pode ser curado com qualquer placebo. Tanta evoluçom para isto?
Somos filhos de umha época marcada pola incerteza. Todo é líquido e relativo e o maior acesso à informaçom nom implica mais clareza se degenera numha fé insana e inexplicável. Órfaos e isolados, sem expetativas e carentes de certezas, acabamos por nos submetermos à irracionalidade como bálsamo. Claro que existem as conspiraçons, que vivemos num mundo em que há forças que operam para se lucrar e que tornam mais hostil e injusta a existência. Como receita para as combatermos, há vezes em que dá a sensaçom de que, ao invés de nos inspirarmos em Marx ou Lenine, acabamos por seguir as indicaçons de Mulder e Scully. Explicava-o muito bem Alberto Moyano ao falar sobre «esoterismo dialético». É trágico pensar que nem o avanço tecnológico nem a expansom da educaçom servem como vacinas contra a fraude. O caminho para as trevas também é indicado por muitos sites.