As últimas chamas no prédio Grenfell Tower foram apagadas apenas nesta quinta-feira (15), dia em que os londrinos amanhecerem em luto e indignação após a tragédia que deixou pelo menos 17 mortos. A polícia não descarta que haja mais vítimas – buscas ainda continuarão a ser feitas no edifício – e a probabilidade de se encontrar sobreviventes é tida como baixa.
"Em meus 29 anos como bombeiro, eu nunca vi nada nessa escala", disse o comissário dos bombeiros de Londres, Dany Cotton.
Ainda não está claro o que gerou o incêndio, que consumiu os 24 andares do prédio na madrugada de quarta-feira. A associação de moradores diz ter tentado chamar a atenção seguidas vezes para falhas no sistemas de segurança. Em post num blog em novembro passado, o Grenfell Action Group alertara que só um "evento catastrófico" acabaria com "as perigosas condições de vida e a violação da legislação sanitária e de segurança" no prédio.
"As pessoas ficarão em choque enquanto os terríveis fatos sobre a Grenfell Tower continuarão a ser revelados", afirmou Matt Wrack, secretário a União das Brigadas de Incêndio. "Uma investigação completa terá que ser feita, assim que possível, para determinar o que exatamente aconteceu e o que pode ser feito para prevenir um novo incidente do tipo."
Localizada perto do popular shopping center Westfield e às margens da rodovia A40, importante ponto de entrada e saída de Londres, a Grenfell Tower foi construída em 1974 e, como é o caso de várias habitações sociais do Reino Unido, hoje é administrada por uma empresa privada.
A empresa, Kensington and Chelsea Tenant Management Organisation (KCTMO), está sendo duramente criticada. Em 2015, ela promoveu uma grande reforma no prédio, no valor de 11 milhões de dólares: janelas com isolamento reforçado e sistemas de aquecimento foram instalados, novos apartamentos foram construídos em espaços vazios, e a fachada ganhou novo revestimento.
Especula-se que o revestimento, de interior plástico, teria contribuído para o rápido alastramento das chamas. Segundo a BBC, prédios com o mesmo revestimento na França, Austrália e Emirados Árabes também foram atingidos por incêndios em que as chamas se espalharam rapidamente. A construtora responsável pela reforma diz que as obras estavam de acordo com a regulamentação.
"Temos conhecimento da reforma", disse Jim Glockling, diretor técnico da Associação de Proteção contra Incêndios. "Mas sem o conhecimento do material específico usado, não podemos dizer, neste momento inicial, se isso foi relevante para esse incidente trágico. O uso de materiais inflamáveis em construções, de todo modo, deve ser discutido para evitar novos incidentes como esse."
Em comunicado, a KTCMO reconheceu que os moradores haviam manifestado preocupação, mas disse ser muito cedo para especular sobre o que causou o rápido avanço das chamas.
Também estão sendo levantadas questões sobre a parcela de culpa das autoridades. O novo chefe de gabinete da primeira-ministra Theresa May, Gavin Barwell, era até a semana passada ministro da Habitação, tendo deixado o cargo de deputado após as eleições. No ano passado, ele prometeu rever a legislação contra incêndios, após uma solicitação relacionada a um incêndio em 2009 no sul de Londres, em que nove pessoas morreram e 20 ficaram ferida. A promessa, porém, nunca se concretizou.
"É o bairro mais rico de nosso país e está tratando nossos cidadãos dessa forma. Temos que chamar as coisas pelo nome: isso é homicídio corporativo. E pessoas têm que ser presas por isso, francamente. É um escândalo", afirmou à BBC o deputado trabalhista David Lammy.
O prefeito de Londres, Sadiq Khan, reconheceu que o desastre levantou questões sobre a segurança de edifícios, e, especula-se que a tragédia poderia adiar até o anúncio de May sobre um acordo parlamentar para permanecer no poder.
"Claramente, há vários questões a serem feitas sobre as causas e, quando for o momento apropriado, esse sindicato redobrará seus esforços para impulsionar uma política de habitação social segura", afirmou o Unite, sindicato do setor em Londres. "Há milhares de prédios como esse no país, e temos que assegurar que não apresentam riscos para vidas humanas."
Por ora, os esforços têm se concentrado em ajudar as centenas de pessoas desabrigadas pelo incêndio.