Nas últimas semanas, um debate ideológico tem aparecido com insistência nos comentários dos vídeos da COTV. O debate sobre física quântica, mais especificamente sobre o chamado “princípio da incerteza” de Heisenberg.
A discussão surgiu depois que Rui Costa Pimenta, presidente do PCO, respondeu a uma pergunta na plenária do dia 19 de agosto, e apontou que o princípio da incerteza foi usado por Heisenberg para alimentar uma posição idealista contra o determinismo e a constatação de que o socialismo é inevitável.
Entre as objeções que surgiram nos comentários, foi colocado, por exemplo, que a “teoria” de Heisenberg seria “cientificamente comprovada”. O tipo de afirmação que revela um hábito muito caro à pequena burguesia, especialmente no Brasil: reproduzir afirmações que não foram entendidas e apoiar-se em uma determinada autoridade. Segundo essa afirmação, Heisenberg não poderia ser questionado.
O problema é que por trás da tese de Heisenberg, aparentemente neutra, está escondido um embate ideológico. Heisenberg era um cientista nazista que trabalhou no projeto nuclear de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Com o fim da guerra ele foi para os EUA, trabalhar para o imperialismo norte-americano durante o cerco à URSS chamado de “Guerra Fria”.
De acordo com o princípio da incerteza de Heisenberg, não se pode determinar com precisão, ao mesmo tempo, a posição e o momento de uma partícula subatômica. Desse fato, o cientista nazista tirou a conclusão de que, no nível subatômico, o Universo seria indeterminado. O próprio Heisenberg extrapola essa conclusão em seu livro “Física e filosofia” para afirmar que a ciência moderna estaria em contradição com o marxismo e levaria a um conflito entre os cientistas da URSS (“novas e poderosas sociedades”) e a fundação de sua sociedade, o marxismo.
Heisenberg não apareceu com essa conclusão do nada. Há uma longa tradição na Alemanha de uma ofensiva contra o marxismo, para procurar negar a inevitabilidade do socialismo e a queda, também inevitável, do socialismo. É essa mesma ofensiva que levaria a coisas como a Escola Austríaca, na economia, fruto desse mesmo esforço. Uma guerra ideológica determinada pela luta de classes e pelo interesse da burguesia.
Na própria física, a tese de Heisenberg de que o próprio Universo seria indeterminado não é unânime, nem comprovada. Uma interpretação diferente da teoria quântica foi proposta pelo físico norte-americano David Bohm. Inicialmente, sua interpretação sofreu ataques não por motivos científicos, mas por sua atividade comunista durante a juventude. No clima de perseguição política dos EUA durante o cerco à URSS, Bohm foi perseguido e se mudou para o Brasil.
O fato de que não se pode determinar atualmente a posição e o momento de uma partícula subatômica não provam que o próprio mundo material não seja determinado, mas apenas que atualmente a humanidade ainda não consegue identificar nesse nível essas determinações. As conclusões filosóficas extravagantes de Heisenberg são um abuso e são ideologicamente interessadas. É parte de uma ofensiva idealista e influenciada pela própria ideologia nazista.
A história do desenvolvimento das hipóteses e teorias científicas demonstra que não há nada de neutro nas ciências. Os cientistas também vivem na sociedade, e sua atividade também é marcada pela luta de classes e pelos interesses de classe. A história da pesquisa sobre mecânica quântica ilustra isso de forma contundente. As objeções levantadas durante as últimas análises políticas da semana mostram ignorância sobre essa realidade, com se a ciência fosse neutra. Não só a ciência não é neutra como em diversos momentos é usada para realizar uma ofensiva ideológica reacionária.