Um (Vicente Jorge Silva, no Público), recorre abundantemente a um truque reles: apreensivo com o crescente peso eleitoral da extrema-direita em muitos países europeus, tenta expor o confronto entre dois pólos: de um lado «forças xenófobas e eurocépticas» (e «antieuropeias»), do outro «as correntes progressistas e pró-europeias». Formula uma das fraudes ideológicas que conduz ao problema que agora o aflige. É que progressismo e «pró-europeísmo da UE» não coincidem e o que não falta é crescente xenofobia na evolução da UE, como vem estando flagrantemente comprovado com a forma como lida com a vaga de refugiados oriundos de países em cuja ocupação e destruição participa.
António Barreto (no DN) derrama o seu pessimismo sobre a triste condição do capitalismo português: «com excepção de dois grupos ligados ao retalho, já não há capital português a sério [...] Quase não há capitalistas portugueses». E adianta, com carradas de razão: «em muito pouco tempo, Portugal viu-se desprovido de autonomia, mesmo relativa, nas áreas das comunicações, dos telefones, dos petróleos, da distribuição de energia, da produção de electricidade, das celuloses, dos cimentos, do papel, da reparação naval, da banca e dos seguros, e a comunicação social já vai a caminho». Fala de «um pobre país». Já não, como Salazar, de um país pobre em recursos, mas de um país pobre em capitalistas. E depois de divagar entre as impossibilidades de superar tal situação, remata: «Sem a UE a tomar conta, teremos as aventuras revolucionárias e solitárias de que os românticos, os déspotas e os adolescentes tanto gostam».
«Aventuras» cuja pior perspectiva seria, para qualquer destes dois pessimistas, essa coisa de pesadelo: um Portugal que dispense os grandes capitalistas e esteja livre do «progressismo» da UE.